segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Você é feliz?

Nunca me fizeram esta pergunta (bem complicada, aliás), mas - se me fizessem - acho que eu saberia o que dizer.

Em primeiro lugar, há que separar as coisas. É bom que se diga que não acredito na felicidade como objetivo, como fim, ou (como fazem os religiosos) como esperança para uma situação futura, um mundo vindouro, uma dimensão privilegiada, etc. E minhas razões são simples. Primeiramente, porque, se a felicidade fosse um projeto para o futuro, nós todos que, teoricamente, nunca alcançaremos o futuro, pois só vivemos de presente, jamais seríamos felizes e, portanto, o projeto seria utópico. Outra razão seria a seguinte: fazer da felicidade um objetivo final significaria ir contra todas as experiências de felicidade que temos. E, com isso, quero dizer que, aparentemente, somos tão mais felizes quanto menos planejamos ser. A felicidade parece ser como a areia de algumas praias. Quando as apertamos nas mãos, elas escapam e assistimos, perplexos, à nossa total incapacidade de retê-las. Logo, pretender incluir a felicidade na lista de metas a conquistar seria perda de tempo, a meu ver. A felicidade aparece quando quer. Mas vai-se embora quando quer também.

Outra coisa a considerar seriam as palavras em si. "Ser feliz". Não sei se acredito que alguém possa "ser feliz", de modo pleno. Talvez eu esteja mais inclinado a pensar que as pessoas (eu incluído) têm momentos de felicidade, experiências alegres que produzem felicidade, sendo que a variação fica por conta do fato de que uns têm mais momentos desses; outros, menos.

Que é melhor ser feliz do que infeliz, não está discussão. Minha resposta à questão, no entanto, caminharia por aí. Se sou feliz? Responderia com prazer que eu tento ser feliz. Que eu busco ser feliz. Mas essa busca, diferentemente do planejamento para o futuro, da esperança de uma situação ideal, é uma busca para agora. Para já. Só creio que podemos ser felizes agora, neste momento, porque, filosoficamente, não somos nada no passado. Nem no futuro. Só podemos ser no presente... e é no presente que precisamos ser felizes.

No fundo, o que quero dizer não é muito diferente do que André Comte-Sponville já disse em seu belo livro, A felicidade desesperadamente. Quanto mais esperanças tivermos de um futuro feliz, menos estaremos aptos a ter experiências de felicidade reais e abundantes. Parece um paradoxo? Não é. Por isso procuro ser feliz agora, neste momento. Já!

Os cristãos, aliás, têm um motivo a mais para pensar com carinho no que acabei de propor. Afinal, não era exatamente essa a proposta do "não andeis ansiosos pelo dia de amanhã"?

Basta a cada dia o seu próprio mal.
E eu acrescentaria: basta a cada dia a efemeridade da felicidade.

Não sou feliz. Mas tento ser. No caminho. Jamais no destino.
E é assim que deve ser!

Um abraço,
Gustavo Miranda

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Efemeridade e Preciosidade

Gosto da ideia de que estamos aqui de passagem. Porque creio que ela enfatiza o aspecto temporário de nossa existência, o que acaba por gerar uma visão de mundo mais realista, mas - sem dúvida - também mais significativa. É verdade que o termo "de passagem" levanta dúvidas sobre nosso verdadeiro destino. E alguns enxergam essa questão pelo aspecto religioso. Mas não penso que seja assim. A "passagem", a meu ver, realça a brevidade de tudo e de todos. A efemeridade e, ao mesmo tempo, a preciosidade de tudo o que sentimos e pensamos.

Acho que era isso o que Nietzsche estava pensando:

"A grandeza do homem é ser uma ponte, e não uma meta; o que se pode amar no homem é ser ele uma passagem e um termo".
(NIETZSCHE, Assim falava Zaratustra).

Um abraço,
Gustavo

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Espiritualista e o Materialista

Não sei se o universo conspira a nosso favor quando queremos alguma coisa. Mas não tenho dúvidas de que, quando a gente realmente quer algo, trabalhamos duro, lutamos, suamos a camisa... e, no final das contas, acabamos conseguindo (de um jeito ou de outro). Não há nada de mágico nisso. Só esforço mesmo. E uma pitadinha de intuição, claro.

A diferença entre o espiritualista e o materialista é que, para o primeiro, há sempre a esperança de alguma ajuda sobrenatural e facilitadora, enquanto que, para o segundo, não há tal esperança, apenas a convicção de que "somos todos responsáveis por tudo, diante de todos" (Dostoievsky). Isso não quer dizer que um seja mais racional que o outro, nem que um seja 100% espiritualista e o outro 100% materialista. Não funciona assim! São apenas modos de ver as coisas. Eu, particularmente, gosto de pensar que o ser humano precisa dos dois pólos: em algumas ocasiões, é necessário ver o mundo de um jeito; em outras, de outro.

Não nego, porém, que sou mais materialista do que espiritualista. Mas essa é uma longa história... e nem sei se sou assim por livre escolha.

O importante é que, parece-me, o materialista tem sempre menor chance de se decepcionar, já que não espera muito, do que o espiritualista. E deve ser precisamente por isso que há tanta gente decepcionada com Deus e com a vida por aí. Esperam demais! No fundo, o que quero dizer é que a diferença entre os dois é que um tem mais esperança que o outro (esperança de que o universo conspire a favor, no caso do espiritualista). Mas esperar demais traz infelicidade e decepção. Todos nós sabemos disso.

Seria o caso, então, de viver desesperadamente?

Se quiserem um caminho para pensar essas e outras questões, leiam o livro de André Comte-Sponville, A felicidade desesperadamente. Vale a pena!

Um abraço,
Gustavo Miranda