sexta-feira, 27 de maio de 2011

A solidão das redes sociais

Mesmo sendo eu um amante da "solidão", verdade seja dita. A maioria dos seres humanos (eu inclusive) só consegue mesmo suportar um tipo de solidão. A solidão com "s" minúsculo. Essa solidão é aquela solidão acompanhada, em que não se está totalmente sozinho, embora fisicamente não se esteja na presença de ninguém. É um tipo de retiro físico, ainda que sempre na companhia mental de outras pessoas, por meio de livros, músicas, lembranças, pensamentos, etc. Sou amante dessa solidão (nem sempre, claro) e acredito que toda pessoa precisa de um tempo assim. A questão é que existe um outro tipo. Solidão com "S" maiúsculo. E essa, meus caros, bem, essa é para poucos. Só consigo me lembrar de alguns monges que conseguem isso. Afirmam ser capazes de silenciar completamente o corpo, os sentimentos e a mente. Chamam isso de "meditação". E se dizem revigorados após esses momentos. Digo Solidão com "S" maiúsculo, porque - essencialmente - esse processo leva ao esvaziamento total do ser. Ou seja, trata-se de uma solidão completa, em que até mesmo o "eu" está ausente.

Não sei se sou capaz disso. Já tentei, aliás. Mas não sou monge. E minhas aspirações estão bem distantes disso. O caso é que, parece-me, as redes sociais são mais um desdobramento dessa necessidade de solidão acompanhada. As pessoas até querem companhia, mas preferem evitar o contato. Tempos modernos, afinal.

Gustavo Miranda

domingo, 22 de maio de 2011

Auto-Engano

E, de fato, é verdade. Depois que me dei conta do modo como penso, das negociatas e das adaptações que faço mentalmente, com o único intuito de tentar me convencer de que estou certo na maioria dos casos, passei a desconfiar mais do que os outros dizem e pensam. Eduardo Gianetti escreveu um livro a respeito, chamado "auto-engano", não faz muito tempo. Tratava disso. Segundo ele, uma boa parte das ideias que forjamos no cérebro pode ser considerada auto-engano. Ou seja, são casos em que sabemos que a realidade é outra, mas - mesmo assim - nos enganamos (e, não raro, tentamos convencer também as pessoas ao nosso redor com essas fantasias).

Quem já não fez isso?

O perigo desse tipo de comportamento é que, após algumas repetições, o auto-engano pode passar a ser verdade coletiva. E aí o negócio fica sério, pois é como se a mentira tivesse sido contada tantas vezes que passou a ser verdade. Outro engano, aliás.

Não sei se estou sendo claro, mas o que quero destacar é que habitamos um mundo construído por nós mesmos, em que é difícil distinguir o engano da realidade. Talvez seja por isso que minha querida Clarice Lispector, em suas anotações instintivas, escreveu algo bastante simples, embora profundo: "o erro dos inteligentes é sempre mais grave: eles têm os argumentos que provam".

Creio que esta reflexão serve, pelo menos, para nos tornar mais cautelosos em relação às nossas certezas. Ou não! Cada um com seu auto-engano. Sempre.

Incluo-me na lista, aliás.

Gustavo Miranda  

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Saudades de mim!

A vida passa tão depressa que, em certo sentido, chego a sentir saudade da pessoa que fui um dia. Também sinto falta de outras pessoas, embora não seja saudade física, dessas que a gente mata no encontro. Saudade do que elas foram no passado. Do que representaram para mim, do que pensaram, do que fizeram. Enfim. Saudade que não dá para matar no presente, a não ser mentalmente, de modo saudosista e parcial. Deve ser por isso que alguns filósofos separam o mundo em duas partes: o mundo que temos em nossas mentes, idealmente; e o mundo real que experimentamos diariamente. Não tenho dúvidas de que o primeiro é sempre mais interessante e confortável, embora o segundo seja como um despertador a lembrar que nossas melhores lembranças viraram fantasias e que, portanto, não correspondem mais à realidade (o que, às vezes, é bom também). O caso é que não dá para viver só no primeiro ou só no segundo desses mundos. Na transição de um para o outro, aliás, constata-se o óbvio: as coisas já não são mais como antigamente. Daí a saudade! Saudade do que fomos um dia!

 

Saudades de mim!   

 

Gustavo Miranda  

domingo, 8 de maio de 2011

Pequena homenagem

Àquela que me amou primeiro e que - com a simplicidade de seus gestos - não me deu outra escolha, senão retribuir - de modo singelo e sincero - a ternura recebida e o elo estabelecido desde o primeiro colo.

Feliz Dia das Mães!!

Gustavo Miranda

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mundo assombrado pelos demônios

A vida em sociedade é tão difícil que, às vezes, chego a pensar que algo deu errado no projeto inicial. Sim, porque todos nós sabemos que, apesar do caráter mítico e fantasioso de algumas narrativas, todas as histórias que nos chegaram por meio das religiões, das clássicas epopéias e, também, das ciências antigas dão conta de que o homem é um ser social por excelência, no sentido de depender dos demais seres humanos e, naturalmente, do meio em que vive. O que ocorre é que, embora essa dependência seja óbvia e, em certa medida, louvável, não se pode negar que a independência também sempre figurou como ideal a ser alcançado entre os seres humanos. Com isso, muitas vontades. Muitos desejos. E, modernamente, muitas individualidades ferveram ao longo dos milênios. No limite, gerou-se o paradoxo de que falei no início deste parágrafo: somos seres sociais, sim! Dependentes, sim! Mas também carentes. Carentes de independência, de satisfações pessoais, de sucessos particulares, de massagens no ego.

 

Aos teóricos do homem, tudo isso sempre soou muito natural e parte integrante de um processo abrangente. A questão, no entanto, é que nunca foi simples ser a única espécie a carregar tantas energias opostas internamente. Esses são, aliás, os únicos e verdadeiros demônios do mundo. Demônios que carregamos dentro de nós, no coração. E que tentamos ocultar a qualquer custo, embora eles sejam fortes o suficiente para continuar a tornar nossa vida em sociedade difícil e, às vezes, impraticável. 

 

Gustavo Miranda