Antes de tudo, me respondam: que satisfação mórbida algumas pessoas têm em consultar a lista de defuntos do velório de um cemitério?
Pois é. Conheço uma velhinha que faz isso todos os dias. É a dona Lourdes, aqui da rua. Na verdade, "dona Lu", para os íntimos.
Dona Lu tem aproximadamente 70 anos. Move-se com dificuldade. Cabelos grisalhos arroxeados. Olhar parado, roupas sinistras, um leve cheiro de naftalina. O lugar típico para encontrá-la é o cemitério da Vila Guarani. Não importa quem seja o morto. Quem sejam os familiares. Ela sempre está lá, com uma curiosidade fora do comum. Sua dedicação a essa tarefa é tão "profissional" que, aqui nas redondezas, ela vive causando situações inusitadas. A mais comum é que as pessoas, por saberem de seu costume estranho, criaram certa superstição. Se a encontram na feira ou pelas ruas, logo começam a se benzer. Claro, é compreensível. Ao olhar para dona Lu, lembram do ritual patético e fúnebre da senhora e, naturalmente, imaginam que ela tenha mesmo o dom de atrair a morte.
O mais misterioso dos casos, no entanto, é aquele que contam ter acontecido no último dia de finados. Dona Lu desapareceu, não foi vista em casa nem em canto algum. Simplesmente sumiu, evaporou (parece óbvio que esse fato, por si só, não é digno de muita atenção, eu concordo). O porteiro do cemitério, porém, jura que lá pelas 2 e 33 da manhã ouviu alguns sons estranhos e um leve cheiro de naftalina no ar. Viu de longe a silhueta de uma pessoa que se locomovia devagar e que parecia carregar uma tampa de caixão nas mãos... Resultado: de um tempo para cá, ninguém mais duvida de que a velhinha esteve no cemitério para prestar alguma homenagem mórbida a algum falecido. Não existem provas, claro. Mas o porteiro, que pediu demissão no outro dia e nunca mais foi visto, jamais deu detalhes pormenorizados do ocorrido... alguns dizem até que ele morreu.
Bem, para ser sincero, eu não acredito muito nessas histórias. É verdade que dona Lu é estranha, que chega a dar medo em muitos que tentam puxar alguma conversa (qual seria o assunto? Os falecidos da semana?). Apesar disso, creio que a paixão dela de ver a lista diária de defuntos seja proporcional à minha paixão de inventar histórias que não existem.
Se isso for verdade, amanhã dona Lu estará novamente no cemitério.
E eu... aqui escrevendo histórias.
Um abraço,
Gustavo
Pois é. Conheço uma velhinha que faz isso todos os dias. É a dona Lourdes, aqui da rua. Na verdade, "dona Lu", para os íntimos.
Dona Lu tem aproximadamente 70 anos. Move-se com dificuldade. Cabelos grisalhos arroxeados. Olhar parado, roupas sinistras, um leve cheiro de naftalina. O lugar típico para encontrá-la é o cemitério da Vila Guarani. Não importa quem seja o morto. Quem sejam os familiares. Ela sempre está lá, com uma curiosidade fora do comum. Sua dedicação a essa tarefa é tão "profissional" que, aqui nas redondezas, ela vive causando situações inusitadas. A mais comum é que as pessoas, por saberem de seu costume estranho, criaram certa superstição. Se a encontram na feira ou pelas ruas, logo começam a se benzer. Claro, é compreensível. Ao olhar para dona Lu, lembram do ritual patético e fúnebre da senhora e, naturalmente, imaginam que ela tenha mesmo o dom de atrair a morte.
O mais misterioso dos casos, no entanto, é aquele que contam ter acontecido no último dia de finados. Dona Lu desapareceu, não foi vista em casa nem em canto algum. Simplesmente sumiu, evaporou (parece óbvio que esse fato, por si só, não é digno de muita atenção, eu concordo). O porteiro do cemitério, porém, jura que lá pelas 2 e 33 da manhã ouviu alguns sons estranhos e um leve cheiro de naftalina no ar. Viu de longe a silhueta de uma pessoa que se locomovia devagar e que parecia carregar uma tampa de caixão nas mãos... Resultado: de um tempo para cá, ninguém mais duvida de que a velhinha esteve no cemitério para prestar alguma homenagem mórbida a algum falecido. Não existem provas, claro. Mas o porteiro, que pediu demissão no outro dia e nunca mais foi visto, jamais deu detalhes pormenorizados do ocorrido... alguns dizem até que ele morreu.
Bem, para ser sincero, eu não acredito muito nessas histórias. É verdade que dona Lu é estranha, que chega a dar medo em muitos que tentam puxar alguma conversa (qual seria o assunto? Os falecidos da semana?). Apesar disso, creio que a paixão dela de ver a lista diária de defuntos seja proporcional à minha paixão de inventar histórias que não existem.
Se isso for verdade, amanhã dona Lu estará novamente no cemitério.
E eu... aqui escrevendo histórias.
Um abraço,
Gustavo
Ola Gustavo... afinal, essa história é verdadeira ou não?? Muito boa.. abraços.. Reinaldo
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