sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Quando as luzes se apagam

Rostos bonitos, vestindo roupas de marca, sapatos combinando e com cabelos cuidadosamente tratados e alisados passavam por mim. Eu estava num shopping-center. A feira das vaidades.

Um evento tornou essa experiência (já conhecida de todos nós) diferente dessa vez. Repentinamente, acabou a energia. Uma luz fraca de segurança se acendeu. E, em meio a suspiros de decepção, as pessoas (que não tinham nada melhor para fazer em suas casas) continuaram andando nos corredores mal-iluminados. Algumas lojas decidiram fechar. Outras tantas continuaram a atender e a vender, aproveitando os pequenos raios de luz, que - na verdade - tornavam o ambiente ainda mais curioso: uma ligeira penumbra capitalista, o verdadeiro exemplo de comprar no escuro.

Durante os 15 ou 20 minutos de sombras, porém, uma coisa chamou a atenção. A feira das vaidades não funciona no escuro. Os rostos bonitos, vestindo roupas de marca, sapatos combinando e com cabelos tratados já não eram notados. Entendi, imediatamente, o porquê dos suspiros de decepção. O templo capitalista exige luz, mas uma luz diferente da que esclarece os pensamentos. A luz que ofusca a verdade.

E a verdade é que, nesse mundo de glamour, de etiquetas cada vez mais caras e reservadas a poucos, as pessoas perdem totalmente a identidade quando as luzes se apagam. Talvez essa seja a pergunta a ser respondida: o que esse mundo tem a oferecer quando as luzes simplesmente falham?

Não posso negar que essa pequena experiência me forneceu uma resposta. Mais que isso: a falta de energia no shopping foi um experimento filosófico. A alegoria da caverna de Platão nunca foi tão bem representada.

Um abraço,
Gustavo