terça-feira, 12 de outubro de 2010

O show do Bon Jovi e o Mundo Performático

E, para ser sincero, o que se espera de um show de pop-rock?

Resposta óbvia: uma série de experiências, sentimentos, emoções, enfim, um turbilhão de sensações, principalmente quando o evento é acompanhado por pré-imagens (e por fantasias) que levamos já de casa, o que faz o show começar bem antes do primeiro acorde.

Concordam?

Essa é uma resposta possível, sem dúvida. Mas, talvez, o que realmente estejamos procurando num lugar desses seja a principal característica dos tempos pós-industriais. Performance. Atuação. Desempenho. É isso o que fascina. É isso o que encanta. E é isso, também (sobretudo), o que clama pelas nossas atenções atualmente.

O que quero dizer é que não é preciso ser gênio para perceber que shows como os do Bon Jovi não começam nem terminam no palco. Eles não são mais do que os reflexos de nossa condição atual. Estamos com os pés atolados num mundo performático. As pessoas e o sistema cobram desempenho. Desempenho na vida profissional. Desempenho nas relações sociais. Performance como pais e mães. Performance como filhos e filhas. Desempenho como alunos. Atuação nas igrejas (preferencialmente aquelas que têm corpo de dança e grupos musicais bem ensaiados). E, claro, não podia ser diferente, performance sexual. Afinal, é lá, na cama, que temos de mostrar do que somos feitos (não espanta que, nesse mundo de performance, gogo-boys e viagras sejam as palavras da moda).

A questão a se colocar à mesa é a seguinte: e quando a performance não é a esperada? E quando o desempenho está aquém do que o sistema exige?

Bem, aí vêm pelo menos duas etapas. Em primeiro lugar, mentimos. Falsificamos a realidade. Fingimos ser pop-stars (aliás, é o mundo que não reconhece nosso valor, não é mesmo?). Compramos. Marcas e mais marcas. Afundamos o cartão de crédito em dívidas, pois não passa pela nossa cabeça que estamos comprando apenas coisas concretas. Não! Não! Estamos comprando valores, conceitos, ideias... e todas elas apontam na mesma direção. Tentamos tapar o buraco de nossa alma com os paliativos dos shoppings e das grifes.

Essa etapa pode durar bastante tempo, e em alguns casos pode até mesmo dar a impressão de que tudo voltou a fazer sentido e de que o mundo performático continua aí. Mas, em geral, ela acaba. E, quando acaba, vem o mal do século. O labirinto dos espelhos. Uma etapa tão aterradora que nos coloca cara-a-cara com nosso pior inimigo: nós mesmos. Depressão. É o nome popular desse tribunal que armamos contra nós mesmos. A diferença é que fazemos o papel do juiz e, ao mesmo tempo, do réu. O juiz é nossa consciência performática, de como gostaríamos que as coisas fossem. O réu é nosso eu-interior, em nada semelhante aos pop-stars que imaginamos; em nada performático; em tudo limitado, espacial e temporalmente.

E o que sobra?

Sobram as pílulas contra depressão. Os calmantes. Os remédios para dormir. E o inconveniente do espelho sempre a nos confrontar. Tudo isso acompanhado pela melodia que não sai da cabeça:

Give me something for the pain...

Um abraço,
Gustavo Miranda

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