Estou escrevendo um pequeno livro de registros pessoais em que o pano de fundo é exatamente este: a liberdade de escolha.
O interesse pelo tema se deu de maneira mais ou menos óbvia. A meu ver, vivemos o dilema registrado na fala memorável de um dos personagens de Dostoievski: se Deus não existe, então tudo é permitido. Essa paráfrase do livro "Os Irmãos Karamazov" tem sido frequentemente mal interpretada durante o século XX, sobretudo por religiosos que buscam em Dostoievski (bem em quem) uma suposta defesa da moralidade a partir de princípios religiosos. Na verdade, o escritor russo não queria enfatizar a possibilidade de amoralidade se extinguirmos o conceito de deus; mas, antes, sublinhar como fica claro na leitura do trecho todo que, se abdicarmos da noção de deus, então recai sobre nossos ombros (e somente sobre eles) toda e qualquer responsabilidade diante das escolhas e dos atos que fazemos. E isso não só parece aterrador do ponto de vista prático como, também, nos deixa com um controle sombrio da vida que, provavelmente, não fazemos questão de saber que temos.
E aí caímos no paradoxo: lutamos muito para ter o controle das situações, mas, quando finalmente ele está em nossas mãos, fazemos questão de passar a bola para outro (ou lamentamos que tenhamos tantas alternativas). E veja: é uma preocupação legítima, já que Sartre andou por aí quando afirmou que "o homem está condenado a ser livre". E Nietzsche ficou louco ao propor que a ideia de um deus que justifique os acontecimentos à nossa volta é totalmente desnecessária (naturalmente, dizer que sua loucura pode ser explicada a partir dessa base é mera suposição minha).
O fato é que dá medo mesmo. Tomar decisões. E não sem razão. A vida é um quebra-cabeça complicado demais para seres tão (i)limitados.
Bem, o livro é sobre isso. Aguardem!
Gustavo Miranda
O interesse pelo tema se deu de maneira mais ou menos óbvia. A meu ver, vivemos o dilema registrado na fala memorável de um dos personagens de Dostoievski: se Deus não existe, então tudo é permitido. Essa paráfrase do livro "Os Irmãos Karamazov" tem sido frequentemente mal interpretada durante o século XX, sobretudo por religiosos que buscam em Dostoievski (bem em quem) uma suposta defesa da moralidade a partir de princípios religiosos. Na verdade, o escritor russo não queria enfatizar a possibilidade de amoralidade se extinguirmos o conceito de deus; mas, antes, sublinhar como fica claro na leitura do trecho todo que, se abdicarmos da noção de deus, então recai sobre nossos ombros (e somente sobre eles) toda e qualquer responsabilidade diante das escolhas e dos atos que fazemos. E isso não só parece aterrador do ponto de vista prático como, também, nos deixa com um controle sombrio da vida que, provavelmente, não fazemos questão de saber que temos.
E aí caímos no paradoxo: lutamos muito para ter o controle das situações, mas, quando finalmente ele está em nossas mãos, fazemos questão de passar a bola para outro (ou lamentamos que tenhamos tantas alternativas). E veja: é uma preocupação legítima, já que Sartre andou por aí quando afirmou que "o homem está condenado a ser livre". E Nietzsche ficou louco ao propor que a ideia de um deus que justifique os acontecimentos à nossa volta é totalmente desnecessária (naturalmente, dizer que sua loucura pode ser explicada a partir dessa base é mera suposição minha).
O fato é que dá medo mesmo. Tomar decisões. E não sem razão. A vida é um quebra-cabeça complicado demais para seres tão (i)limitados.
Bem, o livro é sobre isso. Aguardem!
Gustavo Miranda