E, de fato, num belo dia, o telefone tocou. Era ela. Estava em São Paulo. Queria marcar um encontro. Marquei. Claro. O que eu podia fazer? Esperava por aquilo há anos. Três minutos de conversa e eu já tinha em mãos um endereço e um horário para encontrá-la. Era tudo o que devia ser... mas eu nem acreditava que o dia havia realmente chegado (acho que nem ela). Lembro-me de ter saído apressado de casa, levemente pensativo, para ir ao local combinado (afinal, eu estava preparado para aquilo?). Era um shopping. E estava cheio. Na verdade, lotado. A pressa me fez chegar 30 minutos antes do horário marcado, de modo que minha mente, vendo tanta gente passar e passar, começou a fantasiar coisas inesperadas, que nunca até então tinham feito parte de minhas mais estranhas elucubrações. Decidi, então, me esconder por um momento no corredor dos banheiros. E lá fiquei. 40 minutos. Fazendo de conta que procurava um cartão telefônico para ligar para não sei quem.
E foi dali, do corredor dos banheiros, que eu a vi chegar. Soube que era ela desde o primeiro instante. Porque ela me procurava. Olhava para os lados e não me achava, seus olhos penetrantes na multidão, esperando por mim, aguardando no meio do salão. De longe, contemplei seu rosto discretamente. E cheguei mesmo a pensar que sentia o cheiro de seus cabelos macios. Era linda. Muito mais do que eu imaginava. A pele branca contrastando com seus cabelos negros e olhos claros. Sua expressão preocupada, de quem espera alguém, tornando-a ainda mais bela e sedutora. Foram minutos de prazer. Prazer visual. Um prazer iniciado há dois anos, numa sala virtual, de Internet, que se concretizava dentro daquele shopping, no meio de tantas pessoas estranhas.
Na verdade, aquela tarde só não foi melhor porque "esqueci" de fazer o que qualquer pessoa em sã consciência teria feito. Não fui ao encontro dela. Não tive coragem. Não me apresentei. Não levei um presente. Nem mesmo disse "oi". Em vez disso, saí, de fininho, e cometi o maior de todos os pecados. Deixei uma donzela, linda, esperando, e nunca mais dei notícias.
Um abraço,
Gustavo