Nunca me fizeram esta pergunta (bem complicada, aliás), mas - se me fizessem - acho que eu saberia o que dizer.
Em primeiro lugar, há que separar as coisas. É bom que se diga que não acredito na felicidade como objetivo, como fim, ou (como fazem os religiosos) como esperança para uma situação futura, um mundo vindouro, uma dimensão privilegiada, etc. E minhas razões são simples. Primeiramente, porque, se a felicidade fosse um projeto para o futuro, nós todos que, teoricamente, nunca alcançaremos o futuro, pois só vivemos de presente, jamais seríamos felizes e, portanto, o projeto seria utópico. Outra razão seria a seguinte: fazer da felicidade um objetivo final significaria ir contra todas as experiências de felicidade que temos. E, com isso, quero dizer que, aparentemente, somos tão mais felizes quanto menos planejamos ser. A felicidade parece ser como a areia de algumas praias. Quando as apertamos nas mãos, elas escapam e assistimos, perplexos, à nossa total incapacidade de retê-las. Logo, pretender incluir a felicidade na lista de metas a conquistar seria perda de tempo, a meu ver. A felicidade aparece quando quer. Mas vai-se embora quando quer também.
Outra coisa a considerar seriam as palavras em si. "Ser feliz". Não sei se acredito que alguém possa "ser feliz", de modo pleno. Talvez eu esteja mais inclinado a pensar que as pessoas (eu incluído) têm momentos de felicidade, experiências alegres que produzem felicidade, sendo que a variação fica por conta do fato de que uns têm mais momentos desses; outros, menos.
Que é melhor ser feliz do que infeliz, não está discussão. Minha resposta à questão, no entanto, caminharia por aí. Se sou feliz? Responderia com prazer que eu tento ser feliz. Que eu busco ser feliz. Mas essa busca, diferentemente do planejamento para o futuro, da esperança de uma situação ideal, é uma busca para agora. Para já. Só creio que podemos ser felizes agora, neste momento, porque, filosoficamente, não somos nada no passado. Nem no futuro. Só podemos ser no presente... e é no presente que precisamos ser felizes.
No fundo, o que quero dizer não é muito diferente do que André Comte-Sponville já disse em seu belo livro, A felicidade desesperadamente. Quanto mais esperanças tivermos de um futuro feliz, menos estaremos aptos a ter experiências de felicidade reais e abundantes. Parece um paradoxo? Não é. Por isso procuro ser feliz agora, neste momento. Já!
Os cristãos, aliás, têm um motivo a mais para pensar com carinho no que acabei de propor. Afinal, não era exatamente essa a proposta do "não andeis ansiosos pelo dia de amanhã"?
Basta a cada dia o seu próprio mal.
E eu acrescentaria: basta a cada dia a efemeridade da felicidade.
Não sou feliz. Mas tento ser. No caminho. Jamais no destino.
E é assim que deve ser!
Um abraço,
Gustavo Miranda
Em primeiro lugar, há que separar as coisas. É bom que se diga que não acredito na felicidade como objetivo, como fim, ou (como fazem os religiosos) como esperança para uma situação futura, um mundo vindouro, uma dimensão privilegiada, etc. E minhas razões são simples. Primeiramente, porque, se a felicidade fosse um projeto para o futuro, nós todos que, teoricamente, nunca alcançaremos o futuro, pois só vivemos de presente, jamais seríamos felizes e, portanto, o projeto seria utópico. Outra razão seria a seguinte: fazer da felicidade um objetivo final significaria ir contra todas as experiências de felicidade que temos. E, com isso, quero dizer que, aparentemente, somos tão mais felizes quanto menos planejamos ser. A felicidade parece ser como a areia de algumas praias. Quando as apertamos nas mãos, elas escapam e assistimos, perplexos, à nossa total incapacidade de retê-las. Logo, pretender incluir a felicidade na lista de metas a conquistar seria perda de tempo, a meu ver. A felicidade aparece quando quer. Mas vai-se embora quando quer também.
Outra coisa a considerar seriam as palavras em si. "Ser feliz". Não sei se acredito que alguém possa "ser feliz", de modo pleno. Talvez eu esteja mais inclinado a pensar que as pessoas (eu incluído) têm momentos de felicidade, experiências alegres que produzem felicidade, sendo que a variação fica por conta do fato de que uns têm mais momentos desses; outros, menos.
Que é melhor ser feliz do que infeliz, não está discussão. Minha resposta à questão, no entanto, caminharia por aí. Se sou feliz? Responderia com prazer que eu tento ser feliz. Que eu busco ser feliz. Mas essa busca, diferentemente do planejamento para o futuro, da esperança de uma situação ideal, é uma busca para agora. Para já. Só creio que podemos ser felizes agora, neste momento, porque, filosoficamente, não somos nada no passado. Nem no futuro. Só podemos ser no presente... e é no presente que precisamos ser felizes.
No fundo, o que quero dizer não é muito diferente do que André Comte-Sponville já disse em seu belo livro, A felicidade desesperadamente. Quanto mais esperanças tivermos de um futuro feliz, menos estaremos aptos a ter experiências de felicidade reais e abundantes. Parece um paradoxo? Não é. Por isso procuro ser feliz agora, neste momento. Já!
Os cristãos, aliás, têm um motivo a mais para pensar com carinho no que acabei de propor. Afinal, não era exatamente essa a proposta do "não andeis ansiosos pelo dia de amanhã"?
Basta a cada dia o seu próprio mal.
E eu acrescentaria: basta a cada dia a efemeridade da felicidade.
Não sou feliz. Mas tento ser. No caminho. Jamais no destino.
E é assim que deve ser!
Um abraço,
Gustavo Miranda