Se, por um lado, somos condicionados pelos nossos instintos e códigos biológicos e, por outro, sofremos a influência de estruturas sociais (e, por consequência, de relações afetivas) que nos cercam no cotidiano, como falar em liberdade ou em qualquer forma de vontade própria sem considerar, efetivamente, a manipulação a que somos submetidos e a pressão com que temos de lidar para, de fato, exercer tal liberdade e tal vontade?
A questão não é das mais simples. Assemelha-se muito ao caso da criança que prefere ganhar uma Barbie a ganhar uma boneca desconhecida (ainda que esta última possa até ser mais vistosa que a primeira). Vontade própria? Liberdade? Duvido! Acredito mais em condicionamento mercadológico. Em marketing. A criança não sabe (e, ao que parece, nós também não), mas ela aceitou se subordinar a uma marca. A um conceito. O resto não é mais que a expressão dessa subordinação ideológica: possuir o produto.
Isso tem a ver com exercer nossa vontade. Mas tenho dúvidas se essa é, realmente, nossa vontade. Alguns argumentarão, a despeito da trivialidade do argumento, que não é bem assim. Segundo eles, certas coisas não são desejadas por acaso. Não fazem sucesso à toa! Logo, nossa vontade se expressa no sentido de almejar o melhor; o mais excelente; o mais bem feito; o mais cheio de detalhes; ou seja, nenhuma relação com condicionamentos ou coisas parecidas. Na verdade, o homem sempre quis a perfeição. Portanto, se algumas indústrias se especializaram em chegar nesse nível e fizeram desse ideal seu ganha-pão, paciência! Temos de nos curvar diante delas...
O caso é que em nenhum outro período essas questões ficam mais vivas em minha mente do que no período de fim de ano. É verdade que são reflexões antigas e que sobre elas muito já se falou (não tenho aqui, por conseguinte, nenhuma pretensão de trazer algo novo à discussão). Mas elas continuam válidas (talvez até mais do que antes), e não me canso de recordá-las.
O exemplo de Sartre é ilustrativo, ainda que o foco seja outro e a resposta quase polêmica. Perguntaram-lhe se era cristão. E ele, do alto de seu ateísmo, responde: como posso não ser, tendo em vista que faço parte de uma sociedade destacadamente cristã? Somos todos cristãos!
Exercemos, de fato, nossas vontades? Nossa liberdade? Ou somos condicionados praticamente o tempo todo?
A frase de Humberto Mariotti levanta algumas suspeitas:
[...] em muitos casos, o que pensamos ser nossa vontade consciente é apenas o que nos impõem os nossos condicionamentos culturais.
Não há dúvidas de que essa reflexão fere nosso ego.
Um abraço,
Gustavo Miranda
A questão não é das mais simples. Assemelha-se muito ao caso da criança que prefere ganhar uma Barbie a ganhar uma boneca desconhecida (ainda que esta última possa até ser mais vistosa que a primeira). Vontade própria? Liberdade? Duvido! Acredito mais em condicionamento mercadológico. Em marketing. A criança não sabe (e, ao que parece, nós também não), mas ela aceitou se subordinar a uma marca. A um conceito. O resto não é mais que a expressão dessa subordinação ideológica: possuir o produto.
Isso tem a ver com exercer nossa vontade. Mas tenho dúvidas se essa é, realmente, nossa vontade. Alguns argumentarão, a despeito da trivialidade do argumento, que não é bem assim. Segundo eles, certas coisas não são desejadas por acaso. Não fazem sucesso à toa! Logo, nossa vontade se expressa no sentido de almejar o melhor; o mais excelente; o mais bem feito; o mais cheio de detalhes; ou seja, nenhuma relação com condicionamentos ou coisas parecidas. Na verdade, o homem sempre quis a perfeição. Portanto, se algumas indústrias se especializaram em chegar nesse nível e fizeram desse ideal seu ganha-pão, paciência! Temos de nos curvar diante delas...
O caso é que em nenhum outro período essas questões ficam mais vivas em minha mente do que no período de fim de ano. É verdade que são reflexões antigas e que sobre elas muito já se falou (não tenho aqui, por conseguinte, nenhuma pretensão de trazer algo novo à discussão). Mas elas continuam válidas (talvez até mais do que antes), e não me canso de recordá-las.
O exemplo de Sartre é ilustrativo, ainda que o foco seja outro e a resposta quase polêmica. Perguntaram-lhe se era cristão. E ele, do alto de seu ateísmo, responde: como posso não ser, tendo em vista que faço parte de uma sociedade destacadamente cristã? Somos todos cristãos!
Exercemos, de fato, nossas vontades? Nossa liberdade? Ou somos condicionados praticamente o tempo todo?
A frase de Humberto Mariotti levanta algumas suspeitas:
[...] em muitos casos, o que pensamos ser nossa vontade consciente é apenas o que nos impõem os nossos condicionamentos culturais.
Não há dúvidas de que essa reflexão fere nosso ego.
Um abraço,
Gustavo Miranda
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