quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz 2010

Caros leitores e leitoras deste blog:

Gostaria de desejar-lhes felicidades, saúde e um ótimo 2010.
Desejo-lhes também muitos terremotos, bons combates, muita indignação e ousadia, insônias, sintomas abundantes. Mas que em tudo isso os sentimentos sejam justos, as batalhas dignas e o desespero lúcido. Que neste ano não faltem encontros alquímicos e que o aço do Ser seja temperado a cada dia. Mais que isso: que a história que todos nós viemos contar e semear seja recordada e honrada para sempre.

Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum. Monteiro Lobato.

Feliz Ano Novo!

Um abraço,
Gustavo

sábado, 17 de outubro de 2009

Encontros e Despedidas

E mais uma vez a vida nos faz encarar o velho dilema da humanidade. Encontros e despedidas. Alegrias e dores. Ganhos e perdas.

Muitos já escreveram sobre o assunto. Muitos filosofaram. Vários intuíram. Mas nunca ninguém entendeu o cerne da reflexão sem antes experimentar na própria pele a dificuldade da questão. A verdade é que a vida não segue regras. Não acompanha conceitos morais. Não nos dá ou tira o que julgamos conveniente ou racional, apenas faz o que tem de ser feito, sem aviso prévio, sem razão, quando bem entende (sorte daqueles que encontram compatibilidade entre o que querem e o que a vida dá).

A vida consiste em experimentar a alegria de ver gente chegando, nascendo, fazendo nossa vida mais feliz. E, ao mesmo tempo, enfrentar a dificuldade de abrir mão de pessoas queridas, que já cumpriram seu objetivo, ou que simplesmente foram “chamadas” mais cedo.

Hoje, infelizmente, me fiz essa pergunta e refleti bastante sobre a questão. Minha avó partiu e levou com ela uma parte de mim que certamente nunca mais voltará a ser a mesma.

Ficaram as lembranças boas. Doeram as sensações de adeus. São encontros e despedidas. Alegrias e dores. Fazem parte da vida. Mas a gente reluta em aceitar... desde que o mundo é mundo. Desde que a gente é gente.

Saudades, Vó! Muitas mesmo...

Gustavo

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Certeza de ter razão...

Palavras do prêmio Nobel em Biologia Molecular:

Não é somente o interesse que leva os seres humanos a se matar. Também é o dogmatismo. Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão. Nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada absoluta. Todos os crimes da História foram consequência de algum fanatismo. Todos os massacres foram realizados por virtude: em nome da Religião verdadeira, do racionalismo legítimo, da política idônea, da ideologia justa; em suma, em nome do combate contra a verdade do outro, do combate contra Satã. [FRANÇOIS JACOB, grifo meu].

Sábias. Precisas e, sobretudo, inspiradoras.

Um abração,
Gustavo

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Julio Verne e Fitzgerald

Pequenas dicas de leitura:

1- Acabei de reler o livro "Viagem ao centro da Terra". Julio Verne é, sem dúvida, um dos melhores escritores de ficção científica que já li. Consegue unir uma série de informações científicas com enredos que prendem a atenção. Tive a mesma sensação quando li "Volta ao mundo em 80 dias". São clássicos. E os clássicos dizem muito, sempre.

2- Estou lendo um romance de F. Scott Fitzgerald chamado "This side of Paradise" (Este lado do paraíso), de 1920. É o livro de estréia do autor. Vale lembrar que Fitzgerald foi parte da "lost generation" (a geração perdida) nos Estados Unidos, termo dado ao grupo de artistas e escritores que acabou abandonando o país entre o período do pós-primeira-guerra e início da Grande Depressão (em 1929). Excêntrico ele. Acho que escreveu e bebeu durante a vida toda. Mas que sensibilidade ele tinha. Aliás, foi muito amigo de Ernest Hemingway, outra grande figura. Neste livro, ele narra com detalhes o que era ser jovem numa América também jovem. Muito interessante e cheio de reflexões, sobretudo o percurso de "pré-universitário" que ele descreve tão bem. Vale a pena ver!

Um abraço,
Gustavo

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O nascimento da borboleta

Desencanto
By José Saramago

Todos os dias desaparecem espécies animais e vegetais, idiomas, ofícios. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Cada dia há uma minoria que sabe mais e uma maioria que sabe menos. A ignorância expande-se de forma aterradora. Temos um gravíssimo problema na redistribuição da riqueza. A exploração chegou a requintes diabólicos. As multinacionais dominam o mundo. Não sei se são as sombras ou as imagens que nos ocultam a realidade. Podemos discutir sobre o tema infinitamente, o certo é que perdemos capacidade crítica para analisar o que se passa no mundo. Daí que pareça que estamos encerrados na caverna de Platão. Abandonamos a nossa responsabilidade de pensar, de actuar. Convertemo-nos em seres inertes sem a capacidade de indignação, de inconformismo e de protesto que nos caracterizou durante muitos anos. Estamos a chegar ao fim de uma civilização e não gosto da que se anuncia. O neo-liberalismo, em minha opinião, é um novo totalitarismo disfarçado de democracia, da qual não mantém mais que as aparências. O centro comercial é o símbolo desse novo mundo. Mas há outro pequeno mundo que desaparece, o das pequenas indústrias e do artesanato. Está claro que tudo tem de morrer, mas há gente que, enquanto vive, tem a construir a sua própria felicidade, e esses são eliminados. Perdem a batalha pela sobrevivência, não suportaram viver segundo as regras do sistema. Vão-se como vencidos, mas com a dignidade intacta, simplesmente dizendo que se retiram porque não querem este mundo.

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E aí me vem a pergunta: estamos assistindo à morte da lagarta ou ao nascimento da borboleta? Para ser sincero, tenho dúvidas.

Um abraço,
Gustavo

domingo, 15 de março de 2009

Frutos de todos e Terra de ninguém


O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém'.

A citação é de Jean-Jacques Rousseau(1712 - 1778), uma das figuras mais marcantes do iluminismos francês.

Um abraço,
Gustavo

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Adicionando um fermento...

Percebi que poderia ter mencionado uma coisa em meu texto anterior, que agora faz todo sentido. Ser honesto nas escolhas e no modo como construímos nosso pensamento é assumir as preferências. É dizer "penso e ajo assim, porque prefiro assim, simpatizo mais com esse modo de ver as coisas, gosto assim".

A falta de honestidade das autoridades (professores, padres, políticos, chefes de empresa, etc.) que mencionei se deve a isso. Elas não dizem que pensam daquele jeito porque preferem daquele jeito. Dizem, ao contrário, que pensam de um determinado modo porque aquele é o mais correto, aquele é o verdadeiro, aquele é o normal, etc. Isso é uma farsa. Conduz aos fundamentalismos que temos visto. E deve ser evitado.

Mas é simples resolver o problema. Só precisamos ser honestos. Nada de explicações supostamente objetivas. Um simples "eu gosto assim, o outro assado" já encerra o assunto.

Um abraço,
Gustavo

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Provérbio

Achei bastante interessante este provérbio e espero que vocês reflitam:

"A verdade é um espelho que caiu das mãos dos deuses e se quebrou. Desde então, cada um recolhe um pedaço e afirma que toda a verdade está naquele caco".
Provérbio Iraniano.

Um abraço,
Gustavo

domingo, 8 de fevereiro de 2009

The Curious Case of Benjamin Button

The Curious Case of Benjamin Button. Vejam! Vale a pena.
O filme é baseado no conto de Francis Scott Fitzgerald, um grande escritor americano que fez parte da Lost Generation, a geração perdida, termo dado ao grupo de celebridades literárias que foi obrigado a viver na Europa e em outras partes do mundo entre a Primeira Guerra Mundial e o início da Grande Depressão, em 1929.

O filme conta a história de um homem que nasce velho e, com o passar dos anos, rejuvenesce. É bastante realista e expõe as vantagens e as desvantagens de ter o relógio biológico invertido. Lembrei-me daquela curiosa anedota atribuída supostamente a Charles Chaplin a respeito do ciclo da vida.

Enfim, acho que o filme vale as indicações que recebeu ao Oscar.
Mas isso é opinião.

Um abraço,
Gustavo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Lembranças de escola

Creio que alguns já ouviram falar que a educação, sobretudo na idade média, era feita em mosteiros, na companhia de clérigos. Pois bem! Queria compartilhar aqui o relato de um jovem monge a respeito de sua experiência educacional, ao chegar ao mosteiro e ao aprender a ler. O texto chama-se "Lembranças de escola".

"Eu era totalmente ignorante e fiquei muito maravilhado quando vi os grandes edifícios do convento, nos quais deveria morar daquele momento em diante; mas fiquei muito contente pelo grande número de companheiros de vida e de jogo, que me acolheram amigavelmente. Depois de alguns dias, senti-me mais à vontade e apenas me adaptara aos hábitos comuns, quando Scholasticus Grimaldo me confiou a um mestre, com o qual devia aprender a ler. Eu não estava sozinho com ele, mas havia muitos outros meninos da minha idade, de origem ilustre ou modesta, que, porém, estavam mais adiantados do que eu. A bondosa ajuda do mestre e o orgulho, juntos, levaram-me a enfrentar com zelo as minhas tarefas, tanto que após algumas semanas conseguia ler bastante corretamente não apenas aquilo que escreviam para mim na tabuinha encerada, mas também o livro de latim que me deram. Depois recebi um livrinho alemão, que me custou muito sacrifício para ler mas, em troca, deu-me uma grande alegria. De fato, quando lia alguma coisa, conseguia entendê-la, o que não acontecia com o latim; tanto que no início ficava maravilhado porque era possível ler e, ao mesmo tempo, entender o que se tinha lido".

Esse relato, de um tal Walagried Strabo, data do século IX. Mas, respondam-me: o modo como o autor fala da alegria de aprender a ler não é, de certa forma, semelhante à alegria que nós todos sentimos quando aprendemos algo?

Um abraço,
Gustavo

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Não leia...

"Não leia para contradizer e contestar
ou para acreditar e tomar como certo,
nem para descobrir assunto de conversa.

Leia, isso sim, para pesar e considerar".
Bacon (1561 - 1626)

Um abraço,
Gustavo

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O elixir da longa vida

Não tenho dúvidas de que a ciência tem desempenhado um papel fundamental em nosso cotidiano. Tem prolongado vidas, por exemplo, que - de outra forma - já não estariam mais entre nós há muito tempo. A dificuldade, no entanto, é que falta uma coisa. Falta o “x” da questão. Falta descobrir como fazer as pessoas viverem mais e melhor, já que, se não for assim, todo o resto será apenas o prolongamento de uma vida que já deveria ter acabado (será sofrimento, enfado e cansaço).

Não que o aumento da expectativa de vida e os desdobramentos possíveis não me agradem. Agradam-me, sim! E muito! A questão, porém, é que me causam horrores também. Na verdade, fico sempre refletindo: que triste seria querer morrer e não poder...

Clarice Lispector tratava desse dilema numa crônica simples e despretensiosa intitulada “A eternidade num chiclete”. Dizia ela que o peso da eternidade, ao que parece, é maior do que imaginamos. Mas o problema é que só nos damos conta disso quando já é suficientemente tarde e já não importa muito viver.

Insisto: falta o “x” da questão. Números e qualidade. Aliar os dois ainda parece ser um sonho distante, ainda que isso, por si só, não deixe de alimentar nossas fantasias mais antigas todos os dias. O elixir da longa vida, afinal. A imortalidade. Será possível?

Gustavo Miranda

domingo, 11 de janeiro de 2009

O quase encontro

E, de fato, num belo dia, o telefone tocou. Era ela. Estava em São Paulo. Queria marcar um encontro. Marquei. Claro. O que eu podia fazer? Esperava por aquilo há anos. Três minutos de conversa e eu já tinha em mãos um endereço e um horário para encontrá-la. Era tudo o que devia ser... mas eu nem acreditava que o dia havia realmente chegado (acho que nem ela). Lembro-me de ter saído apressado de casa, levemente pensativo, para ir ao local combinado (afinal, eu estava preparado para aquilo?). Era um shopping. E estava cheio. Na verdade, lotado. A pressa me fez chegar 30 minutos antes do horário marcado, de modo que minha mente, vendo tanta gente passar e passar, começou a fantasiar coisas inesperadas, que nunca até então tinham feito parte de minhas mais estranhas elucubrações. Decidi, então, me esconder por um momento no corredor dos banheiros. E lá fiquei. 40 minutos. Fazendo de conta que procurava um cartão telefônico para ligar para não sei quem.

E foi dali, do corredor dos banheiros, que eu a vi chegar. Soube que era ela desde o primeiro instante. Porque ela me procurava. Olhava para os lados e não me achava, seus olhos penetrantes na multidão, esperando por mim, aguardando no meio do salão. De longe, contemplei seu rosto discretamente. E cheguei mesmo a pensar que sentia o cheiro de seus cabelos macios. Era linda. Muito mais do que eu imaginava. A pele branca contrastando com seus cabelos negros e olhos claros. Sua expressão preocupada, de quem espera alguém, tornando-a ainda mais bela e sedutora. Foram minutos de prazer. Prazer visual. Um prazer iniciado há dois anos, numa sala virtual, de Internet, que se concretizava dentro daquele shopping, no meio de tantas pessoas estranhas.

Na verdade, aquela tarde só não foi melhor porque "esqueci" de fazer o que qualquer pessoa em sã consciência teria feito. Não fui ao encontro dela. Não tive coragem. Não me apresentei. Não levei um presente. Nem mesmo disse "oi". Em vez disso, saí, de fininho, e cometi o maior de todos os pecados. Deixei uma donzela, linda, esperando, e nunca mais dei notícias.

Um abraço,
Gustavo