Uma ferida narcísica apoderou-se de meu coração. Para nunca mais ir embora. Nunca mais dar trégua, a não ser nos raros momentos de lucidez. De embriaguez intelectual. De resignação frente ao espinho na carne que me consome por inteiro, fazendo-me ainda pensar - vez ou outra - que algumas cruzes são de isopor, outras de plástico ou de madeira, embora a minha seja mesmo de chumbo (e eu não tenha para quem reclamar).
É essa ferida narcísica, na verdade, que me traz tantos problemas práticos. Ninguém consegue ver ou perceber. E, mesmo que fosse possível, especializei-me em disfarces. Em dissimulações. Postando-me como exemplo aos demais, ainda que tudo não passe de fantasia e de exageros dos que se afeiçoam à minha pessoa.
Não, não é possível ver. Nem perceber. Mas lá dentro. Ah, bem lá dentro, moram comigo sentimentos de rejeição que eu jamais pude compreender ou explicar. Não sei quando começaram e nem sei se um dia irão terminar. O que sei é que eles ditam meus passos. E espreitam-me no lado obscuro do ego, como caçadores natos que possuem a técnica e a frieza necessárias para deixar a vítima se debater até a morte, totalmente sozinha.
Tudo isso está em minha mente. E é com ela que vejo o mundo. A imagem no espelho, no entanto, não me agrada e continua borrada.
Ninguém tem culpa.
Entender, porém, já é outra história. A ferida não deixa, embora eu tente...
Gustavo Miranda
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Ferida Narcísica
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