domingo, 20 de março de 2011

A foto

Encontrei uma foto. Aleatória. Na rede. E rapidamente me vi diante de uma realidade difícil de aceitar, embora fácil de compreender, mas isso na teoria, não na prática. Eu explico. O rosto era conhecido. Pessoa bonita. Charmosa. Já a conhecia há muito tempo, mesmo que não a visse fazia anos, talvez décadas. Mas aí um problema. O que me intrigou foram as marcas. Perto dos olhos. Por toda a região da testa. No pescoço. E nas mãos, enrugadas e mais frágeis que o habitual. Sinais do tempo. Marcas dos anos. Com os olhos presos àquela foto, pensei o óbvio: que o tempo é, de fato, nosso pior inimigo nessa trilha que vai do nascimento à morte. Mas mudei de ideia. E bem rápido. Pois, na verdade, não é o tempo o nosso pior inimigo. Nem as marcas que ele deixa em nossos corpos, que geralmente ferem nosso ego e nos fazem investir tanto em manter as aparências. É a consciência. A consciência de que o tempo passa. E a consciência de que ele decreta, silenciosamente, nossa morte simbólica todos os dias. É isso o que nos intriga. E é isso o que não conseguimos aceitar.

Típica experiência que todos nós já tivemos na vida. Experiência amarga do relógio. Dos segundos, dos minutos, das horas, dos dias e das semanas. Tudo escorrendo, de forma alegórica, através da areia da ampulheta que marca quanto já vivemos e quanto ainda podemos esperar viver.

Não espero entender por que as coisas são assim. Mas gostaria de saber por que, dentre todos os animais, somos os únicos a ter essa sórdida consciência.

A foto não me sai da cabeça... e o tempo continua passando.

Gustavo Miranda

Um comentário:

  1. O mesmo tempo que fere o nosso ego e decreta nossa morte, é o mesmo que cicatriza as feridas, apaga as lembranças amargas, e pode atré transformar um sentimento ruim em algo bom, ou pelo menos neutro dessa coisa pesada que sentimos quando algo não vai bem. Enfim, ele, o tempo, também está a nosso favor, só depende de como o utilizamos.
    Abraço,

    ResponderExcluir