Não me parece inapropriado pensar que, em matéria de traição, e me refiro às traições conjugais em sentido amplo, o foco - tanto para mulheres como para homens - seja menos a aventura de viver perigosamente do que a necessidade, quase insuportável, de preencher as lacunas que foram deixadas (e, às vezes, mal-compreendidas) pelo outro durante os anos. Assim, parece-me claro que há tipos de traição que são menos uma questão de seios irresistíveis e de corpos perfeitos do que uma questão de encontrar um sentido de vida e de buscar a felicidade. Trai-se, paradoxalmente, por falta de opção. Por necessidade. Trai-se por falta de caminho. Ou melhor, com o intuito de encontrar o tal caminho, embora nem sempre essas motivações estejam explícitas (em geral, não estão).
Não quero afirmar, com isso, que a responsabilidade da traição é apenas de quem foi traído (e, na verdade, tenho a impressão de que o contrário também não é verdadeiro). Só estou sugerindo que, quando o assunto é traição, o melhor mesmo é olhar para as lacunas. As lacunas deixadas pelos anos de convivência. São elas, para ser sincero, a depender da importância que têm para as duas pessoas envolvidas, que abrirão ou não o caminho para uma terceira pessoa. Lacunas, afinal...
Gustavo Miranda