Não é tão simples quanto parece. E nem tão automático quanto se possa pensar. Nossos impulsos, instintos, inclinações, vontades, desejos, são difíceis, se não impossíveis, de controlar. Basta observar as pessoas. Basta olhar ao redor. Nós mesmos. Dentro e fora. O equilíbrio e a maturidade só dão conta de frear certos atos, certas obviedades. Existem outras, porém, que permanecem intratáveis, dando gritos desesperados que, do nosso inconsciente, ecoam em nosso consciente. Ato falho. Estrutura psíquica. Freud explica. Ou talvez não.
O que precisa ficar claro é que estamos diante da complexidade. E tais situações não se explicam separadamente, com o método cartesiano. É o todo que explica o todo! Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo.
O problema é que temos de apelar para teorias novas e concepções paralelas. E isso não é fácil, porque, também nesse caso, está gravado nos impulsos, instintos, inclinações, vontades e desejos. Ninguém é conservador porque quer. Ou revolucionário por escolha. As pessoas são o que são. Nós somos. Eu sou. E não há como saber quais as alegrias e as tristezas de ser o que se é, sempre lutando pelo que se poderia ser, ainda que isso seja impossível, pois certos idealismos só funcionam bem em filosofia, nunca na vida real.
Ato falho é o inconsciente interagindo com o consciente. É o telefone da alma tocando. É a chamada que nos recusamos a atender, porque a ligação traz desejos reprimidos, que nos esforçamos para esquecer, mas que continuam lá, mostrando a cara, influenciando ações, modelando pensamentos, nossa vida, aqui e agora.
Ocorre-me, neste momento, que ninguém está livre de um certo determinismo psíquico. Somos reféns de nós mesmos! Mas isso, convenhamos, soa estranho e parece roteiro de filme americano. Talvez seja isso mesmo, e em várias dimensões. Dormimos com o inimigo hoje. E, amanhã, tudo o que podemos fazer é ficar à espera de um milagre.
O caso é que simplificar o complexo e dificultar o simples parece ser nossa sina. Mas tal constatação também não leva a nada. Estamos condenados! Ponto. Não admira, portanto, que a missão desta breve jornada (a vida) seja tentar abrir a gaiola e alçar voo.
Isso nem todos conseguem. E Freud explica (ou tenta)!
É que os deuses, para próprio divertimento, jogaram as chaves fora. E, para piorar, a luz da gaiola queimou. Agora o que temos de fazer é tatear.
Não deixa de ser uma boa metáfora para a vida: não caminhamos, apenas tateamos! Sem certezas. Sem garantias. Apenas envoltos em mistério.
Um abraço,
Gustavo Miranda