Nossa paixão por sistemas democráticos, no fundo, esconde um problema mais agudo e bem mais antigo: a vida em si é bem pouco democrática. Diria até que ela é muito mais determinista que democrática, aliás. Daí o óbvio: não aceitamos isso. Então criamos sistemas, e boas fantasias, que não têm outra função senão dar-nos a impressão de controle e de escolha sobre as coisas que se passam ao redor, o que - naturalmente - é questionável, embora nosso ego não nos permita, em geral, pensar assim.
Mas o problema não termina aí. Há aqueles ainda que, inebriados por esse falso poder diante da vida, criam normas e regras e institucionalizam nossos medos e desejos, sob a promessa de que seremos felizes se aderirmos a um credo, a uma forma de pensar.
É o caso das Religiões, do Estado, da Ciência e de tantas instituições e explicações, cada uma com suas regras próprias e suas promessas indiretas, que tentam nos cooptar.
Busca por controle e por poder. Tudo farinha do mesmo saco!
Gustavo Miranda
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Farinha do mesmo saco!
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Ferida Narcísica
Uma ferida narcísica apoderou-se de meu coração. Para nunca mais ir embora. Nunca mais dar trégua, a não ser nos raros momentos de lucidez. De embriaguez intelectual. De resignação frente ao espinho na carne que me consome por inteiro, fazendo-me ainda pensar - vez ou outra - que algumas cruzes são de isopor, outras de plástico ou de madeira, embora a minha seja mesmo de chumbo (e eu não tenha para quem reclamar).
É essa ferida narcísica, na verdade, que me traz tantos problemas práticos. Ninguém consegue ver ou perceber. E, mesmo que fosse possível, especializei-me em disfarces. Em dissimulações. Postando-me como exemplo aos demais, ainda que tudo não passe de fantasia e de exageros dos que se afeiçoam à minha pessoa.
Não, não é possível ver. Nem perceber. Mas lá dentro. Ah, bem lá dentro, moram comigo sentimentos de rejeição que eu jamais pude compreender ou explicar. Não sei quando começaram e nem sei se um dia irão terminar. O que sei é que eles ditam meus passos. E espreitam-me no lado obscuro do ego, como caçadores natos que possuem a técnica e a frieza necessárias para deixar a vítima se debater até a morte, totalmente sozinha.
Tudo isso está em minha mente. E é com ela que vejo o mundo. A imagem no espelho, no entanto, não me agrada e continua borrada.
Ninguém tem culpa.
Entender, porém, já é outra história. A ferida não deixa, embora eu tente...
Gustavo Miranda
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
As aparências enganam
Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam (Arthur Schopenhauer, em A arte de escrever).
Gustavo Miranda
sábado, 5 de fevereiro de 2011
A ordem é exceção
O sentido pode ser teórico, e na maioria das vezes é. Não importa muito se está diretamente relacionado à verdade dos fatos ou não. Por uma razão simples: a busca por sentido é, também ela, busca por explicações. E nada conforta mais do que a vaga sensação de que entendemos o que se passa nesse grande mistério que é a vida.
O caso é que, talvez, seja a hora de reconhecer o óbvio, pelo menos na dimensão cotidiana, das relações mais diretas que temos com os fatos da vida (pois, cientificamente, já se sabe disso há muito tempo): a ordem é uma exceção. Vivemos numa realidade em que o acaso e o caos prevalecem sempre.
Sim, eu sei. É um balde de água fria em nossas pretensões.
Gustavo Miranda