E, de fato, é verdade. Depois que me dei conta do modo como penso, das negociatas e das adaptações que faço mentalmente, com o único intuito de tentar me convencer de que estou certo na maioria dos casos, passei a desconfiar mais do que os outros dizem e pensam. Eduardo Gianetti escreveu um livro a respeito, chamado "auto-engano", não faz muito tempo. Tratava disso. Segundo ele, uma boa parte das ideias que forjamos no cérebro pode ser considerada auto-engano. Ou seja, são casos em que sabemos que a realidade é outra, mas - mesmo assim - nos enganamos (e, não raro, tentamos convencer também as pessoas ao nosso redor com essas fantasias).
Quem já não fez isso?
O perigo desse tipo de comportamento é que, após algumas repetições, o auto-engano pode passar a ser verdade coletiva. E aí o negócio fica sério, pois é como se a mentira tivesse sido contada tantas vezes que passou a ser verdade. Outro engano, aliás.
Não sei se estou sendo claro, mas o que quero destacar é que habitamos um mundo construído por nós mesmos, em que é difícil distinguir o engano da realidade. Talvez seja por isso que minha querida Clarice Lispector, em suas anotações instintivas, escreveu algo bastante simples, embora profundo: "o erro dos inteligentes é sempre mais grave: eles têm os argumentos que provam".
Creio que esta reflexão serve, pelo menos, para nos tornar mais cautelosos em relação às nossas certezas. Ou não! Cada um com seu auto-engano. Sempre.
Incluo-me na lista, aliás.
Incluo-me na lista, aliás.
Gustavo Miranda
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