A vida em sociedade é tão difícil que, às vezes, chego a pensar que algo deu errado no projeto inicial. Sim, porque todos nós sabemos que, apesar do caráter mítico e fantasioso de algumas narrativas, todas as histórias que nos chegaram por meio das religiões, das clássicas epopéias e, também, das ciências antigas dão conta de que o homem é um ser social por excelência, no sentido de depender dos demais seres humanos e, naturalmente, do meio em que vive. O que ocorre é que, embora essa dependência seja óbvia e, em certa medida, louvável, não se pode negar que a independência também sempre figurou como ideal a ser alcançado entre os seres humanos. Com isso, muitas vontades. Muitos desejos. E, modernamente, muitas individualidades ferveram ao longo dos milênios. No limite, gerou-se o paradoxo de que falei no início deste parágrafo: somos seres sociais, sim! Dependentes, sim! Mas também carentes. Carentes de independência, de satisfações pessoais, de sucessos particulares, de massagens no ego.
Aos teóricos do homem, tudo isso sempre soou muito natural e parte integrante de um processo abrangente. A questão, no entanto, é que nunca foi simples ser a única espécie a carregar tantas energias opostas internamente. Esses são, aliás, os únicos e verdadeiros demônios do mundo. Demônios que carregamos dentro de nós, no coração. E que tentamos ocultar a qualquer custo, embora eles sejam fortes o suficiente para continuar a tornar nossa vida em sociedade difícil e, às vezes, impraticável.
Gustavo Miranda
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