terça-feira, 14 de junho de 2011

O sol que aparece depois da chuva

Coloquemos em termos simples e diretos.

As separações são difíceis e dolorosas porque o outro, que se vai, nunca vai embora de mãos abanando. Ele leva consigo parte do que fomos um dia. Arranca de nós uma fração do que pensamos, do que sonhamos, do que planejamos. Mexe mais com nosso passado, embora também afete nosso presente e futuro. Altera nossa essência, deixa marcas, ainda que a intenção não seja machucar, apenas despedir-se.

Sempre me encheu de tristeza presenciar esses momentos. E isso não apenas porque, atualmente, eles se tornaram mais frequentes e banalizados, mas - sobretudo - porque em minha mente figurativa e analítica não vejo outra imagem capaz de sintetizar melhor o sofrimento humano que a imagem da separação e da despedida. Separar dói. Traumatiza. Divide. Chego mesmo a pensar que o paraíso seria um ambiente em que nada (nem ninguém) precisaria ser separado. Um lugar em que nunca se diria “adeus”, apesar de, teoricamente, isso ser apenas uma fantasia adocicada.

Assim como muitos, deparei-me cedo com o tema da separação. Lembro-me que, ainda no pré, senti as lágrimas escorrerem de meus olhos quando, no meio do ano letivo, minha primeira professora, tia Sandra, anunciou que estava partindo para outra cidade e teria de deixar as aulas. Depois, quando já estava mais crescidinho, naquela época em que descobrimos o complexo que a vida é, lembro-me também de ficar assustado e depressivo ao saber que tive um irmão mais velho que nem cheguei a conhecer.

Despedidas. Separações. Umas mais simbólicas. Outras menos. Todas simbolizando o fechamento de um ciclo. O encerramento de um caminho.

O que me chamava a atenção já naquelas primeiras sensações de separação é que, como somos humanos e não queremos sofrer para sempre, procuramos nos convencer de que "há males que vêm para bem". Então tentamos ver o lado positivo das coisas. Fantasiamos teorias. Criamos chavões, afinal, quando uma porta se fecha, outras duas se abrem. E assim seguimos a vida, tentando crer em histórias que beiram a metafísica.

O caso é que sempre tive dúvidas. E ainda não sei se a verdade é bem assim.

O que me parece ser fato é que, diante das separações, temos todos uma capacidade incrivelmente apurada de encontrar caminhos alternativos e, eventualmente, até de chegar a resultados surpreendentes. Mas isso não tira o peso e a dor das despedidas. Pois o tempo passa e, vez ou outra, nos vemos perante sentimentos de dor que ficaram para trás, em separações forçadas ou inevitáveis (é o meu caso, aliás, que ainda tenho sonhos com minha tia Sandra e não deixo de fantasiar um só dia sobre como seria ter um irmão mais velho).

As separações são difíceis. E são difíceis porque nos tiram do conforto e da segurança que sentíamos (ou sentiríamos) na presença do outro. Para ser sincero, não sei se há algo que doa mais que a despedida forçosa daquilo que nos completa. Por isso, o sentimento de ausência esgota no momento todas as possibilidades de felicidade. Por isso, também, choramos nas despedidas, embora o sorriso sempre volte com outros e novos encontros.

Como o sol que aparece depois da chuva...

Gustavo Miranda  

2 comentários:

  1. Olá Gustavo, sempre estou por aqui, gosto muito das suas mensagens e claro, aquelas que me identifico e me emociono mais, não posso deixar de comentar, assim como esta. Incrível a maneira como você enxerga a vida e como isso reflete na minha, creio que em outras vidas também, pena nem todos compartilhar, apesar que cada um compartilha a sua maneira, acho!...rs...

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  2. Querido Gustavo. Me encantei com a sua maneira de escrever. Sua doçura escorrendo pelo canto das palavras é deliciosa. Parabéns menino! Sucesso...

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