Uma das clientes dirige a palavra à cabeleireira: "Seu filho faz 1 aninho no mês que vem. Vocês farão uma festinha?". Ao que a cabeleireira responde: "Não, não! Somos testemunhas de Jeová! Não fazemos isso!".
Silêncio abrupto.
Silêncio abrupto.
Não que eu tenha qualquer simpatia por festinhas de aniversário, sobretudo as de criança (que, perdoem-me a franqueza, são uma ótima maneira de pagar os pecados), mas aquilo soou tão bruto aos meus ouvidos que não pude evitar a reflexão. Ora, está aí um dos grandes equívocos dos pais religiosos. Eles, em geral, se esquecem de uma coisa básica: ninguém nasce religioso. As pessoas tornam-se religiosas mediante adesão, seja lá por qual razão (atualmente, as boas razões andam em falta, confesso), a este ou àquele credo. Mas aí vem o detalhe: elas devem fazer isso exercendo seu próprio direito de escolha. A adesão a uma religião pode vir acompanhada do cenário que for. Mas não da coerção, como - aliás - tem sido na maioria das famílias.
Sei que, tentando defender-se do indefensável, os pais logo buscam explicar tais atitudes com chavões do tipo estamos ensinando o caminho a nossos filhos. Mas essa é outra bobagem. O que eles fazem (embora nem sempre reconheçam que fazem) é modelar os filhos à imagem e semelhança deles próprios (outra ideia com fundo religioso): os mesmos gostos, ideias, modos de se comportar, o mesmo credo. Enfim.
Ainda que eu reconheça que esse processo não é totalmente negativo, a depender das pessoas e das intenções envolvidas, claro, não nego que, em muitos aspectos, ele é pernicioso e cruel. Não existem crianças religiosas. Existem pais religiosos.
Por isso aquela conversa informal no salão de beleza agrediu meus ouvidos. No fundo, reconheço nela um pouco do que aconteceu comigo.
Gustavo Miranda
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