O caso é que já há algum tempo temos assistido ao definhamento inesperado de todos os sistemas sociais que um dia nos prometeram êxito, visto que mais e mais vezes (e, sobretudo, neste começo de novo século) nos vemos à beira de um colapso estrutural irreversível, ainda que até agora muito bem mascarado por todos os envolvidos, como se os problemas não tivessem tamanha dimensão. O que chama a atenção, e aqui vai uma pequena (e rara) pincelada de meu otimismo, é que já sabemos muito bem onde estão os equívocos. Na racionalização exagerada. Na fragmentação da vida. Na valorização excessiva do material e no empobrecimento consequente do ser (tantas características paralelas, aliás, que têm nos separado faz séculos da plenitude que poderíamos atingir). Porém, tal consciência, embora razoável, nos impede de seguir adiante. Em primeiro lugar, porque somos todos reféns de um sistema que fugiu do controle; em segundo, porque estamos acostumados às nossas gaiolas. Sim, nossas próprias gaiolas, sociais, burocráticas, éticas, epistemológicas, culturais, etc.
Diante de tal panorama, e tentado a encontrar respostas que nos forneçam novos caminhos ou que, pelo menos - mais modestamente, nos garantam algum tempo de sobrevida, só me ocorre um convite insólito e perigoso, mas extremamente necessário: vamos alçar voo?
Gustavo Miranda
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Vamos alçar voo?
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Autocrítica
Gustavo Miranda
domingo, 11 de dezembro de 2011
Cenas Urbanas
Gustavo Miranda
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Um deus à minha imagem, fraco
Gustavo Miranda
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
O silêncio das palavras
Gustavo Miranda
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
A nudez e as máscaras
Gustavo Miranda
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Ausência
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Escolhas e Renúncias
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Sem regras, sem receitas
Apenas como a vida deve ser.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
A gaiola
Ou seja, todo mundo ganha. Menos quem é posto dentro da gaiola.
Gustavo Miranda
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Morrer no auge ou definhar na velhice?
Isso porque, se é verdade que tal exemplo nos remete a uma sensação de vida jogada fora, ainda mais com tanto dinheiro e talento envolvidos (e que, certamente, poderiam ter sido mais bem aproveitados), por outro não é menos verdade que, agora, esteja ela onde estiver (e estou inclinado a pensar que não está mais em lugar algum), há um privilégio em jogo a que nós, os vivos, não temos direito: Amy agora tem o privilégio de não ser mais assombrada por imagens de uma possível velhice. Morreu no auge, embora esse "auge" tenha sido carregado de álcool e drogas.
O que quero dizer é simples. Que tipo de coragem é preciso ter na vida? Coragem para seguir em frente, apesar do definhamento natural do corpo e das inúmeras limitações (na verdade, doenças) que nos esperam? Ou coragem para sair de cena enquanto é tempo e, mais do que isso, enquanto se é lúcido para tal?
Esse dilema não me parece fácil de resolver.
Naturalmente, os críticos de Amy dirão que ela também estava doente, ainda que fosse bem jovem. Concordo e não há o que negar! Mas, compreendam: a questão está além de Amy ou de qualquer outro roqueiro dos anos 1970. É um problema filosófico, talvez um dos mais agudos referentes à condição humana. Traz à tona o papel de nossa consciência, pois somos a única espécie que sabe que vai morrer (sem saber, no entanto, sob quais circunstâncias ou se sofrendo ou não).
Isso parece pouco para justificar uma bala na cabeça? Pode até parecer, mas há um fundo de verdade em tudo isso. E um terror latente.
E é por isso, talvez, que alguns não suportam. Sexo, drogas e rock and roll me parecem ser apenas escapes para almas aflitas (ainda que sexo sirva para pessoas apaixonadas também, o que – no fundo – quer dizer quase a mesma coisa). Mas aflitas com o quê? Aterrorizadas por quais motivos?
Não sei dizer. Limito-me a enunciar a questão.
O que sei é que é mais difícil do que parece, e qualquer um pode se ver repentinamente dentro dessa problemática. Basta olhar o curso de maturação de uma fruta, particularmente das bananas. Nos primeiros dias, elas estão verdes, impróprias - portanto - para o consumo; depois de um tempo, ficam amarelas, cheirosas, macias e doces como o mel; mais algum tempo e começam a se deteriorar, até o ponto em que se enchem de insetos, enegrecem e logo começam a feder.
E a pergunta que não quer calar, apesar de óbvia: o que nos torna biologicamente diferentes das bananas?
Amy Winehouse não precisa mais esquentar a cabeça com isso.
Gustavo Miranda
quinta-feira, 28 de julho de 2011
A alma boa e o tiro na cabeça
Aliás, ouso dizer que o segundo desses ambientes é o mais complexo. Pois, se - por um lado - ele é indispensável às nossas faculdades mais pessoais e à nossa identidade propriamente dita, por outro age como um inimigo interno, sempre pronto a complicar até as coisas mais simples da vida.
E não é assim mesmo que nos sentimos quando, diante de um dia lindo de sol, ficamos deprimidos e preferimos um quarto escuro?
O que acontece? Algum problema específico com o sol? Ou seria nosso ambiente interno que, por ser interno, passa a contaminar o mundo exterior?
Essas e outras questões foram profundamente estudadas pelos filósofos de todas as épocas. E tudo indica que, à medida que envelhecemos, mais importante se torna ter uma alma boa, já que do corpo não podemos esperar muito com o passar dos anos.
Isso posto, no entanto, convém destacar uma coisinha.
Que ninguém confunda "alma boa" com esse totalitarismo do bem que está na agenda social atualmente (essa coisa de ter princípios morais, éticos ou o que seja). Não! Para mim, "alma boa" é uma característica a ser arduamente desenvolvida e que, dentre os vários benefícios, pode até minimizar a vontade natural que qualquer ser consciente (crítico e sensível) tem de dar um tiro na cabeça de tempos em tempos.
Gustavo Miranda
terça-feira, 26 de julho de 2011
Amor Platônico
Peguei-me a ouvir a seguinte voz dentro de mim: Não posso! Não posso! Não é certo! E, diante da vaga lembrança de que eu não tinha planejado nada daquilo, fui obrigado a admitir o óbvio, embora não quisesse: não havia volta para mim. A paixão me consumia.
Mas ela ficou lá, distante de mim. Muda, a não ser pela música de seus cabelos ao vento. E foi naquele dia, precisamente naquele instante fortuito, que eu soube como ninguém o que significava amor platônico. Não que eu tivesse algo a ver com Platão, já que, naquele tempo, nem suspeitava quem era o tal filósofo. Mas nunca tive dúvidas de que aquele era um amor ideal. Tão ideal e tão perfeito que nem chegou a ser consumado. Ficou na memória, assim como o sorriso que adornava aquele rosto angelical que eu supostamente jamais veria de novo.
Gustavo Miranda
segunda-feira, 4 de julho de 2011
A ferida continua aberta
quinta-feira, 30 de junho de 2011
A vingança nunca é plena
O indício mais flagrante de que somos criaturas estranhas e complicadas (e que tendemos mais para lado da maldade do que da bondade) é esse gosto pecaminoso que cultivamos desde sempre pelas vinganças e pelas desforras. Refiro-me a vinganças de todos os tipos. Profissionais. Sociais. Familiares. Sobretudo, aliás, conjugais (quem já não se pegou pensando, alguma vez na vida, em se vingar de ex-namorados ou ex-namoradas?). Cultivamos esse gosto estranho, em geral totalmente inútil, pelo simples prazer de sentir a alma renovada ao ver pessoas supostamente ruins sofrendo e pagando os pecados. Aí, quando tudo acaba, enchemos o pulmão de ruindade e voltamos aos nossos afazeres desprezíveis, felizes com a desgraça alheia, embora - às vezes - com um pouco de pena também (eis o paradoxo!).
Essa tendência é tão dominante em nós que, até mesmo na literatura e nos filmes, ela se faz presente, e de modos variados. Quem não se lembra de "O Conde de Monte-Cristo", "Ben-Hur", "Spartacus", "Gladiador" e tantos outros?
Gostamos desses roteiros apenas porque geram bons filmes e boas histórias? Não, tenho certeza de que não é só por isso! Gostamos porque, além das características que beiram a genialidade, eles também (e diria principalmente) canalizam desejos reprimidos que adoraríamos pôr para fora. Vontades negadas. Vinganças abafadas, a maior parte delas, sem dúvida, em virtude de nossa covardia natural, o que não acontece nas telinhas do cinema, já que os heróis cinematográficos são sempre tão corajosos e tão irritantemente bem-sucedidos em seus planos vingativos (que inveja!).
Repito: essa é a prova de que valemos pouco ou quase nada. Pois, se por um lado nos identificamos com o desejo de vingança, por outro nos reconhecemos incapazes e covardes diante da realidade. Daí a fuga para a literatura, para os filmes, para as novelas. Nesses cenários, pelo menos, a vingança é plena.
O que não se pode negar, ainda que alguns tentem esconder, é que a vingança está para o prazer assim como a sarna está para a coceira. Quanto mais nos empenhamos em vingar, mais somos escravizados por essa cólera espiritual. E aí vem a constatação, um tanto óbvia: a vingança não cura. Não conserta. E, principalmente, não apaga o passado. Ela só oferece alguns cacos de vidro para coçarmos nossas feridas já cobertas de pus.
A ironia de tudo isso é que... dá prazer. Dá muito prazer!
Gustavo Miranda
terça-feira, 28 de junho de 2011
O "até quando?" me mata...
Gente cismada como eu costuma ter preocupações que, para dizer o mínimo (o mínimo mesmo), beiram o incompreensível. É o que ocorre comigo quando a vida está boa demais, quando os pássaros estão cantando belas melodias e o sonho parece estar, enfim, conquistado. Tenho medo disso! Dessa sensação de que tudo está no lugar. De que estou feliz e de que nada poderia estar melhor. Sinto isso menos em virtude de algum suposto medo de ser feliz do que pela dimensão do desconhecido propriamente dita. Mas, ainda assim, me assombra a sensação, principalmente porque, entre tantas perguntas cabíveis, uma fica sempre martelando a minha mente: até quando vai esse sossego? Até quando vai essa alegria?
Bem sei que, para a maioria dos mortais, essa é uma prova cabal de que não bato bem dos miolos (e disso, diga-se, nunca tive dúvidas). Mas o caso é que não consigo evitar. Esforço-me ao máximo para não deixar transparecer e para não preocupar ninguém com essas coisas (são coisas minhas, afinal), porém os pensamentos estão sempre lá, sólidos, inquisitivos e realistas. Até quando? Até quando? Até quando?
Já percebi, no entanto, que - quando as coisas estão ruins - tenho a leve tendência de me portar melhor. Afinal, quando a vida vai de mal a pior, o que se espera é que, em algum momento, ela melhore e os risos voltem. Nunca vi um mendigo, por exemplo, preocupar-se com a ideia de que sua vida possa piorar. Piorar, nesses casos, é uma impossibilidade teórica e prática. Ou a vida melhora ou continua do jeito que está! Por esse motivo, nunca deixo de ser otimista quando a vida fica difícil.
Meu problema (se bem que não chega a ser realmente um problema) é o período "pós-dificuldade". O momento em que tudo fica bom, em que o arco-íris aparece e os pássaros voltam a cantar. Aí as perguntas não me deixam em paz e tiram o meu sono. E, entre as principais, está essa maldita interrogação (até quando?) que me leva à loucura.
Então não durmo. Esperneio. E questiono os deuses sobre essa vulnerabilidade. Mas nunca obtive uma resposta decente, a não ser a mais óbvia: é preciso ser praticamente cego, surdo e mudo, intelectualmente falando, para ser totalmente feliz neste mundo (e isso me faz lembrar que tenho vários amigos que se enquadram nesse perfil. Tranquilos. Indiferentes. E, naturalmente, felizes - tão diferentes de mim).
Não é o meu caso e receio que nunca será. Eis alguns motivos. Em primeiro lugar, porque não se escolhe enlouquecer por determinadas coisas. Em segundo, porque, se existe realmente uma tal felicidade plena, pretendo alcançá-la do jeito que sou.
Crítico. Depressivo. E complicado...
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Conversa de botequim: traição
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Reflexões filosóficas no salão de beleza
Silêncio abrupto.
terça-feira, 14 de junho de 2011
O sol que aparece depois da chuva
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Vai ficar para depois
Então, subitamente, decidi que era hora de descansar. O quarto sem energia, luzes apagadas, silêncio cristalino, me trouxe uma vez mais o sentimento de harmonia e quietude de alma que somente os corajosos conseguem experimentar. Do lado de fora do quarto, querendo rasgar o tecido desse sossego fortuito, preocupações variadas com a vida e com pessoas que não valem uma gota de suor (pelo menos não em certos instantes). Vai ficar para depois, pensei. Bem depois! Naquele momento, a única coisa que importava era a profunda sensação de encontro com a paz e com o nada, sentimento tranquilizador e, ao mesmo tempo, anestésico. E que se dane a seriedade da vida! Há momentos em que o melhor a fazer é desligar-se da vida e de todos. Temporariamente. Temporariamente.
Gustavo Miranda
sexta-feira, 27 de maio de 2011
A solidão das redes sociais
Gustavo Miranda
domingo, 22 de maio de 2011
Auto-Engano
Incluo-me na lista, aliás.
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Saudades de mim!
A vida passa tão depressa que, em certo sentido, chego a sentir saudade da pessoa que fui um dia. Também sinto falta de outras pessoas, embora não seja saudade física, dessas que a gente mata no encontro. Saudade do que elas foram no passado. Do que representaram para mim, do que pensaram, do que fizeram. Enfim. Saudade que não dá para matar no presente, a não ser mentalmente, de modo saudosista e parcial. Deve ser por isso que alguns filósofos separam o mundo em duas partes: o mundo que temos em nossas mentes, idealmente; e o mundo real que experimentamos diariamente. Não tenho dúvidas de que o primeiro é sempre mais interessante e confortável, embora o segundo seja como um despertador a lembrar que nossas melhores lembranças viraram fantasias e que, portanto, não correspondem mais à realidade (o que, às vezes, é bom também). O caso é que não dá para viver só no primeiro ou só no segundo desses mundos. Na transição de um para o outro, aliás, constata-se o óbvio: as coisas já não são mais como antigamente. Daí a saudade! Saudade do que fomos um dia!
Saudades de mim!
Gustavo Miranda
domingo, 8 de maio de 2011
Pequena homenagem
Feliz Dia das Mães!!
Gustavo Miranda
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Mundo assombrado pelos demônios
A vida em sociedade é tão difícil que, às vezes, chego a pensar que algo deu errado no projeto inicial. Sim, porque todos nós sabemos que, apesar do caráter mítico e fantasioso de algumas narrativas, todas as histórias que nos chegaram por meio das religiões, das clássicas epopéias e, também, das ciências antigas dão conta de que o homem é um ser social por excelência, no sentido de depender dos demais seres humanos e, naturalmente, do meio em que vive. O que ocorre é que, embora essa dependência seja óbvia e, em certa medida, louvável, não se pode negar que a independência também sempre figurou como ideal a ser alcançado entre os seres humanos. Com isso, muitas vontades. Muitos desejos. E, modernamente, muitas individualidades ferveram ao longo dos milênios. No limite, gerou-se o paradoxo de que falei no início deste parágrafo: somos seres sociais, sim! Dependentes, sim! Mas também carentes. Carentes de independência, de satisfações pessoais, de sucessos particulares, de massagens no ego.
Aos teóricos do homem, tudo isso sempre soou muito natural e parte integrante de um processo abrangente. A questão, no entanto, é que nunca foi simples ser a única espécie a carregar tantas energias opostas internamente. Esses são, aliás, os únicos e verdadeiros demônios do mundo. Demônios que carregamos dentro de nós, no coração. E que tentamos ocultar a qualquer custo, embora eles sejam fortes o suficiente para continuar a tornar nossa vida em sociedade difícil e, às vezes, impraticável.
Gustavo Miranda
domingo, 24 de abril de 2011
As lacunas da traição
Não me parece inapropriado pensar que, em matéria de traição, e me refiro às traições conjugais em sentido amplo, o foco - tanto para mulheres como para homens - seja menos a aventura de viver perigosamente do que a necessidade, quase insuportável, de preencher as lacunas que foram deixadas (e, às vezes, mal-compreendidas) pelo outro durante os anos. Assim, parece-me claro que há tipos de traição que são menos uma questão de seios irresistíveis e de corpos perfeitos do que uma questão de encontrar um sentido de vida e de buscar a felicidade. Trai-se, paradoxalmente, por falta de opção. Por necessidade. Trai-se por falta de caminho. Ou melhor, com o intuito de encontrar o tal caminho, embora nem sempre essas motivações estejam explícitas (em geral, não estão).
Não quero afirmar, com isso, que a responsabilidade da traição é apenas de quem foi traído (e, na verdade, tenho a impressão de que o contrário também não é verdadeiro). Só estou sugerindo que, quando o assunto é traição, o melhor mesmo é olhar para as lacunas. As lacunas deixadas pelos anos de convivência. São elas, para ser sincero, a depender da importância que têm para as duas pessoas envolvidas, que abrirão ou não o caminho para uma terceira pessoa. Lacunas, afinal...
Gustavo Miranda
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Controle
O que a Igreja fez durante boa parte da Idade Média passou a ser tão imprescindível para as organizações atuais quanto o foi para a santa inquisição naquela época. Cultivar a fé e os bons princípios? Nem tanto, nem tanto! O que ocorre nas organizações atuais, sejam elas empresariais ou não, é a busca frenética por controle. Controle dos corpos, controle dos pensamentos. Controle das ações e de tudo o que possa valer a pena controlar. Quem nunca parou para refletir sobre o assunto, pode começar dando uma espiadela pelas ruas e pelos corredores das empresas. Câmeras. Catracas eletrônicas. Relatórios de produtividade. Olhos e ouvidos por todos os lados. Talvez seja essa a identificação natural que as pessoas demonstram ter com os reality-shows. É que a vida contemporânea tornou-se um Big Brother por excelência, apesar de ganharmos bem menos (bem menos) para entreter tantas pessoas (nossos chefes, pais, professores, etc.).
Gustavo Miranda
sábado, 9 de abril de 2011
O massacre de nossas convicções!
O que quero dizer é que a morte daquelas crianças, tão cheias de vida e certamente portadoras da esperança de um mundo melhor, representa um mal menor comparativamente à desilusão que, pouco a pouco, tem se espalhado por todos os cantos do planeta. Com isso, devo enfatizar que o grande mal do período atual é que perdemos a confiança nas rotinas capazes de controlar os comportamentos. Perdemos a fé na segurança, de um modo geral. E estamos agora a contemplar a imagem de um monstro no espelho. Nós mesmos, na verdade. Inconstantes. Problemáticos. E, sem dúvida alguma, amedrontados e vulneráveis.
Não se enganem! Não foi a primeira nem a última vez que inocentes morreram de modo bárbaro e planejado. Isso ocorre todos os dias. A dor desta vez é que crianças e escolas sempre foram termos que simbolizaram paz, esperança e mundo melhor. E, infelizmente, agora nem essa certeza podemos levar para o túmulo.
Nossa alma está em luto... pela morte de nossas convicções.
domingo, 3 de abril de 2011
A dor de saber pouco ou quase nada
Não tenho certeza se as dificuldades e o sofrimento são, realmente, condições essenciais para o aprendizado e o desenvolvimento humanos. O que sei é que muitas pessoas argumentam que essas situações, de cotidianidade, de dor e de obstáculos, trazem em seu bojo aspectos positivos que, segundo elas, são capazes de nos fazer refletir sobre coisas que, de outro modo, não seriam jamais objetos de nossa análise. Isso, apesar de parecer compreensível para muitos, tem pouco significado para mim. Em primeiro lugar, porque sempre desconfio desse sentido que nós, os humanos, tentamos criar a posteriori (sempre a posteriori) sobre as dificuldades que nos assolam. A meu ver, isso serve mais como tentativa de se conformar com as coisas, de ajustar o alvo aos dardos lançados pela vida, do que como explicação factível e razoável capaz de aquietar espíritos mais críticos e inconformados (como o meu, por exemplo). Em segundo lugar, porque tenho dificuldades em aceitar a ideia de um sistema cognitivo que só atinge seu máximo desempenho quando atrelado às dificuldades e às dores diárias, embora eu compreenda perfeitamente que essa lei, de um ponto de vista seletivo, é genial e - ao mesmo tempo - enigmática. A dificuldade como mãe da criatividade. Por tabela, a constatação de que a felicidade não produz ideias interessantes! (Será?).
Isso tudo, naturalmente, são meras reflexões de uma mente atordoada e cansada de ver tantos sofrimentos mundo afora. Só queria mesmo entender por que fomos abandonados à própria sorte e por que estamos fadados a viver sempre com as mesmas dúvidas.
Faz sentido para alguém?
Gustavo Miranda
quarta-feira, 23 de março de 2011
Cena tipicamente urbana
Gustavo Miranda
domingo, 20 de março de 2011
A foto
Típica experiência que todos nós já tivemos na vida. Experiência amarga do relógio. Dos segundos, dos minutos, das horas, dos dias e das semanas. Tudo escorrendo, de forma alegórica, através da areia da ampulheta que marca quanto já vivemos e quanto ainda podemos esperar viver.
Não espero entender por que as coisas são assim. Mas gostaria de saber por que, dentre todos os animais, somos os únicos a ter essa sórdida consciência.
A foto não me sai da cabeça... e o tempo continua passando.
Gustavo Miranda
terça-feira, 8 de março de 2011
O doce e o amargo
O desencanto foi inevitável. Automático e irreversível. Pois, tão logo a realidade se desenhou nítida e inconfundível, as fantasias acabaram desconstruídas e reduzidas ao pó. No lugar, crueza e pés no chão. Esvaíram-se as inverdades e os analgésicos da alma. Brotou pavor. Medo. E covardia diante do real, embora eu já soubesse - desde o início - que esse negócio de verdade é mesmo para poucos. Bem poucos.
Mas o que é a verdade e quem tem coragem de enfrentá-la? Não sei e ninguém nunca saberá. O que sei é que sem fantasias e sem misticismos o mundo se torna pavoroso e árido (Já o visitei. E recomendo! Mas com cautela. Com muita cautela!).
As fantasias adoçam a alma e tornam o peso da responsabilidade suportável. Doce veneno. A verdade, porém, liberta. Liberta, mas desencanta.
O gosto é amargo. Bem amargo! Pode dar ânsia.
Gustavo Miranda
domingo, 6 de março de 2011
Receios
O receio que sinto pela morte não é maior nem menor que o receio que sinto pela vida. A morte me assombra pelas dimensões do desconhecido, da dor e da dúvida. Mas a vida também, embora - na maioria das vezes - eu seja suficientemente ingênuo (ou medroso) para esquecer desses detalhes e de seus desdobramentos. O que realmente me motiva a viver, se bem que isso não chega a ser um alento, é que não tenho escolha. Na verdade, nenhum de nós tem. A opção de ser covarde para desistir desse misterioso caminho que vai da vida à morte está, em teoria, excluída. Portanto, conformo-me. Resigno-me. E sigo adiante, mesmo sabendo que a morte, assim como a vida, segue leis próprias; em geral, enigmáticas e insondáveis, assim como a imensidão do espaço e como a vastidão do tempo.
Apenas receios...
Gustavo Miranda
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Farinha do mesmo saco!
Nossa paixão por sistemas democráticos, no fundo, esconde um problema mais agudo e bem mais antigo: a vida em si é bem pouco democrática. Diria até que ela é muito mais determinista que democrática, aliás. Daí o óbvio: não aceitamos isso. Então criamos sistemas, e boas fantasias, que não têm outra função senão dar-nos a impressão de controle e de escolha sobre as coisas que se passam ao redor, o que - naturalmente - é questionável, embora nosso ego não nos permita, em geral, pensar assim.
Mas o problema não termina aí. Há aqueles ainda que, inebriados por esse falso poder diante da vida, criam normas e regras e institucionalizam nossos medos e desejos, sob a promessa de que seremos felizes se aderirmos a um credo, a uma forma de pensar.
É o caso das Religiões, do Estado, da Ciência e de tantas instituições e explicações, cada uma com suas regras próprias e suas promessas indiretas, que tentam nos cooptar.
Busca por controle e por poder. Tudo farinha do mesmo saco!
Gustavo Miranda
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Ferida Narcísica
Uma ferida narcísica apoderou-se de meu coração. Para nunca mais ir embora. Nunca mais dar trégua, a não ser nos raros momentos de lucidez. De embriaguez intelectual. De resignação frente ao espinho na carne que me consome por inteiro, fazendo-me ainda pensar - vez ou outra - que algumas cruzes são de isopor, outras de plástico ou de madeira, embora a minha seja mesmo de chumbo (e eu não tenha para quem reclamar).
É essa ferida narcísica, na verdade, que me traz tantos problemas práticos. Ninguém consegue ver ou perceber. E, mesmo que fosse possível, especializei-me em disfarces. Em dissimulações. Postando-me como exemplo aos demais, ainda que tudo não passe de fantasia e de exageros dos que se afeiçoam à minha pessoa.
Não, não é possível ver. Nem perceber. Mas lá dentro. Ah, bem lá dentro, moram comigo sentimentos de rejeição que eu jamais pude compreender ou explicar. Não sei quando começaram e nem sei se um dia irão terminar. O que sei é que eles ditam meus passos. E espreitam-me no lado obscuro do ego, como caçadores natos que possuem a técnica e a frieza necessárias para deixar a vítima se debater até a morte, totalmente sozinha.
Tudo isso está em minha mente. E é com ela que vejo o mundo. A imagem no espelho, no entanto, não me agrada e continua borrada.
Ninguém tem culpa.
Entender, porém, já é outra história. A ferida não deixa, embora eu tente...
Gustavo Miranda
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
As aparências enganam
Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam (Arthur Schopenhauer, em A arte de escrever).
Gustavo Miranda
sábado, 5 de fevereiro de 2011
A ordem é exceção
O sentido pode ser teórico, e na maioria das vezes é. Não importa muito se está diretamente relacionado à verdade dos fatos ou não. Por uma razão simples: a busca por sentido é, também ela, busca por explicações. E nada conforta mais do que a vaga sensação de que entendemos o que se passa nesse grande mistério que é a vida.
O caso é que, talvez, seja a hora de reconhecer o óbvio, pelo menos na dimensão cotidiana, das relações mais diretas que temos com os fatos da vida (pois, cientificamente, já se sabe disso há muito tempo): a ordem é uma exceção. Vivemos numa realidade em que o acaso e o caos prevalecem sempre.
Sim, eu sei. É um balde de água fria em nossas pretensões.
Gustavo Miranda
domingo, 30 de janeiro de 2011
Asas do Suicídio
Gustavo Miranda
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Esperar
E eis a nossa situação:
Vencer o espaço não foi suficiente. Queremos mesmo é vencer o tempo, muito embora tal empreitada não esteja ao alcance das mãos (de nossas mãos, pelo menos). A verdade é que o tempo parece ser um oponente imbatível. Não obedece a regras humanas. Não se curva diante de nossos caprichos. Pior que tudo: parece estar sempre com o velho sorriso maroto a contemplar as contingências que espetam nosso espírito.
Enfim. Nosso único consolo é saber que não existe nada mais poético que a efemeridade que nos acompanha silenciosamente todos os dias. Isso basta para alguns. Mas não deixa de dar raiva, além de corroer as entranhas.
Gustavo Miranda
sábado, 8 de janeiro de 2011
A morte (do)eu
Bem, vamos por partes:
Em primeiro lugar, devo dizer que acho isso uma bobagem, pois quem pensa e reflete é sempre o "eu". Portanto, para mim está claro que, de um ponto de vista teórico, não há "outro" no processo de composição.
Claro que é possível e aceitável usar o "nós" em textos mais refinados, por referência aos estímulos que temos a partir do "outro" ou nos casos em que há várias pessoas envolvidas na trama, mas, na maioria dos casos, o autor do texto é o "eu". É ele que sente. É ele que sofre. É ele que ri. Que ama. Que fica triste. Que se emociona. Enfim. Por que lhe negar a palavra? Por que calar ou omitir suas inclinações? O "nós" é singular. Usa-se por humildade. Ou para aparentar humildade. Mas é o "eu" quem dá forma às ideias. Ele é a mente organizadora.
Sei que há controvérsias e alguns devem estar questionando minhas intenções ao tratar de um assunto tão aparentemente sem importância. Contudo, devo confessar que, na verdade, meu objetivo é refletir sobre o que nós, sobretudo os Ocidentais, temos feito nos últimos séculos (e não apenas nas redações escolares). A aniquilação do "eu". A exclusão das subjetividades. A dissimulação em forma de palavras. Até parece que ninguém mais pode sentir, ninguém mais pode chorar, ninguém mais é dotado de si mesmo. Corpos desalmados. Equilibrados. Academicamente corretos. Mas sem emoção. Nenhuma particularidade. Essa tem sido a marca das sociedades nos últimos 200 ou 300 anos.
O que quero dizer é que a morte do eu, nas boas redações ou mesmo nas tendências atuais que buscam manter os sentimentos e as particularidades distantes do mundo do trabalho e das coisas sérias, é uma farsa, assim como - a meu ver - estão equivocadas também as teorias que dão prioridade ao "nós", ao "outro", e se esquecem do "eu" (não quero entrar em terreno filosófico aqui, apesar de me sentir tentado a isso).
Isso não significa individualismo e nem rendição aos fetiches do ego. Ao contrário. Significa dar voz ao "eu" oprimido. Significa recolocar a alma no palco das experiências, com todas as suas inconstâncias, efemeridades, particularidades, acertos e erros. O politicamente correto cansa! E cansam também as covardias e as relações estereotipadas! É preciso resgatar o "eu", sem medos, sem remorsos, sem traumas (ou melhor: com medos, com remorsos e com traumas, tanto faz).
Essa é, para mim, uma necessidade urgente. Não vai mudar os manuais de redação nem as dissertações de vestibular. Mas quem sabe mude o mundo!?
Um abraço,
Gustavo Miranda