segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Vamos alçar voo?

O caso é que já há algum tempo temos assistido ao definhamento inesperado de todos os sistemas sociais que um dia nos prometeram êxito, visto que mais e mais vezes (e, sobretudo, neste começo de novo século) nos vemos à beira de um colapso estrutural irreversível, ainda que até agora muito bem mascarado por todos os envolvidos, como se os problemas não tivessem tamanha dimensão. O que chama a atenção, e aqui vai uma pequena (e rara) pincelada de meu otimismo, é que já sabemos muito bem onde estão os equívocos. Na racionalização exagerada. Na fragmentação da vida. Na valorização excessiva do material e no empobrecimento consequente do ser (tantas características paralelas, aliás, que têm nos separado faz séculos da plenitude que poderíamos atingir). Porém, tal consciência, embora razoável, nos impede de seguir adiante. Em primeiro lugar, porque somos todos reféns de um sistema que fugiu do controle; em segundo, porque estamos acostumados às nossas gaiolas. Sim, nossas próprias gaiolas, sociais, burocráticas, éticas, epistemológicas, culturais, etc.

Diante de tal panorama, e tentado a encontrar respostas que nos forneçam novos caminhos ou que, pelo menos - mais modestamente, nos garantam algum tempo de sobrevida, só me ocorre um convite insólito e perigoso, mas extremamente necessário: vamos alçar voo?

Gustavo Miranda

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Autocrítica

Nunca tive problemas em debates de ideias. Mas um dia deparei-me com meu próprio EU no espelho e - para minha surpresa - para cada argumento, ele tinha um contra-argumento; para cada incursão filosófica, uma contrarresposta; para cada análise, uma contra-análise; e assim sucessivamente. Cansado desse jogo, mas lúcido do benefício da autocrítica, tive de admitir que convencer os outros é sempre muito fácil. E rápido. Difícil mesmo é convencer a si próprio.

Gustavo Miranda

domingo, 11 de dezembro de 2011

Cenas Urbanas

E então vi duas crianças dentro da Häagen-Dazs; irmãs; bem vestidas; brincando através do vidro transparente com uma terceira, que acenava do lado de fora; vendedora ambulante de adesivos; pobre; sem teto; moradora de uma rua em que luxo e miséria caminham lado a lado, aparentemente sem incomodar ninguém. As três estavam separadas pelo vidro de nossa incompetência social. Mas não pela alegria pueril de quem, desconhecendo as desigualdades, encontra razão suficientemente forte dentro de si para compartilhar o sorriso.

Gustavo Miranda

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Um deus à minha imagem, fraco

Deuses onipotentes, mas limitados pelas próprias leis ou, em última análise, confinados às escolhas humanas, já não me seduzem mais. Perderam o encanto, assim como os contos de fadas, que, embora confortantes e sedutores, deixaram de ter o mesmo apelo após certa idade. O que quero hoje é um deus fraco. Capaz de chorar comigo pelo que não deu certo. Ou, talvez, de lamentar o triste acaso, as derrotas, os infortúnios, as mesmices de cada dia. Não acredito mais nesses superdeuses, porque - na verdade - poucas coisas nesta vida são "super". A maior parte delas é opaca, sem cor, sem sal. E não me sinto reconfortado por saber que um deus infinitamente poderoso nos abandonou à própria sorte, presos às paixões do ego, fadados ao esforço mental de vislumbrar um suposto futuro em ruas de ouro. Sim, eu sei que há uma poética envolvida em tudo isso e que, provavelmente, essa seja de fato a essência humana: de incertezas, de inconstâncias e de esperanças. Todavia, é justamente essa fraqueza humana que me faz querer alguém como eu, que seja realmente à minha imagem. Um deus fraco. Que me console pelo ombro amigo e pelo choro mútuo, jamais pelos poderes milagrosos ou pelas promessas de um paraíso perfeito.

Gustavo Miranda
   

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O silêncio das palavras

Tantas palavras no dicionário. Tantos sinônimos. Antônimos. Adjetivos. Substantivos. Tantas expressões e nenhuma capaz de explicar o sentimento que se tem ao lado da pessoa amada. Nenhuma capaz de intuir a emoção que se sente ao beijo da mulher apaixonada. Pois, se há algo que verdadeiramente distingue os seres humanos dos outros animais, tal diferença só pode ser encontrada do lado de dentro, na alma, lá onde o silêncio das palavras enfatiza a total inutilidade das descrições e, também, a efemeridade (e eternidade) dos sentimentos.

Gustavo Miranda 
  

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A nudez e as máscaras

A nudez, seja de que tipo for, mostra sempre menos do que a mente imagina e mais do que ela, de fato, gostaria de ver. Eis a razão de nossa preferência pelas máscaras e por tudo o que possa maquiar temporariamente a realidade. Não é fácil aparecer nu, diante de todos, despir-se de rótulos e de títulos, livrar-se das vestes, abrir o peito e mostrar o que há de melhor ou de pior no seio de nossa alma.

Gustavo Miranda

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Ausência

Fui a um templo religioso. E tive uma experiência de ausência. Ausência no sentido de não encontrar o anfitrião da festa, Aquele sobre o qual muitos falam e para o qual dirigem a palavra. Não O vi. Altar vazio, em vez disso. Cheguei até a pensar que Ele poderia ter-se escondido atrás do piano ou no meio do coral. Mas errei. Ele também não estava lá nem em lugar nenhum. Ausência total. Cansado desse esconde-esconde espiritual, levantei-me e fui embora. Lá fora, já bem distante das músicas e dos apelos, a criança que guardava o carro deu-me o sorriso mais bonito que já vi, simplesmente por ter ganhado uma moeda. Então eu O contemplei. Estava lá. Fora dos templos e dos interesses humanos. Num simples sorriso. Num simples encontro casual.

O indizível. O inexplicável.

Gustavo Miranda    

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Escolhas e Renúncias

As escolhas que fazemos na vida são, em última análise, um tipo de renúncia silenciosa. E isso, dito de outra forma, significa que escolher é, ao mesmo tempo, um ato de abdicação. Pois escolher é especificar. Mas especificar é sinônimo de focalizar. E, naturalmente, é impossível focalizar coisas na vida sem desconsiderar outras, sem conferir menor importância ao não-escolhido. A meu ver, é o que fazemos o tempo todo, já que a vida é feita de escolhas. A questão é que são essas escolhas que definem o foco, os caminhos e os valores que moldam a personalidade. Mas nem todas elas são voluntárias. E diria que a maior parte acontece sem que tenhamos a menor consciência disso, independente de nossa vontade.

Gustavo Miranda

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sem regras, sem receitas

Não, não me peça para dar regras ou receitas. Não acredito nelas. Desconfio. Questiono. E, no fundo, creio que elas são sempre as ferramentas para a conformidade, para a falta de crítica, para a crença cega (e perigosa) que pode engaiolar qualquer um. Esse é, particularmente, o problema que tenho com as religiões (e por isso não sou adepto de nenhuma). São muitas regras. Muitas normas. E pouco fair-play. A meu ver, a vida não cabe dentro dessas regras. Não se restringe a elas. A menos que o amor pelos preceitos religiosos seja tal que a cegueira dê a impressão de que seguí-los é o mesmo que viver. Mas não é o meu caso (já foi!). Hoje prefiro pensar que há sentimentos fortuitos que, em questão de segundos, umedecem os olhos, secam as feridas, silenciam as palavras e amplificam a consciência. Tudo em questão de segundos. Sem regras. Sem receitas.

Apenas como a vida deve ser.      

Gustavo Miranda

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A gaiola

Quando a mãe diz, toda preocupada com o comportamento do filho, que vai "cortar suas asinhas ao chegar em casa", o que ela quer dizer, no fundo, é que dá muito trabalho lidar com gente que voa. E é verdade mesmo. Diria até que é sempre mais fácil (e oportuno), na impossibilidade de cortar totalmente as asinhas, manter as pessoas dentro de gaiolas do que deixá-las à solta. Isso evita, por um lado, que elas vejam muitas coisas diferentes lá fora e diminui, por outro, a possibilidade de trazerem perguntas estranhas para as quais, provavelmente, nós também não teremos respostas.

Ou seja, todo mundo ganha. Menos quem é posto dentro da gaiola.

Gustavo Miranda

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Morrer no auge ou definhar na velhice?

A morte de Amy Winehouse, ainda que esperada até pelos fãs mais otimistas, traz à tona uma pergunta aguda e, para a qual, não tenho o menor esboço de resposta.

Isso porque, se é verdade que tal exemplo nos remete a uma sensação de vida jogada fora, ainda mais com tanto dinheiro e talento envolvidos (e que, certamente, poderiam ter sido mais bem aproveitados), por outro não é menos verdade que, agora, esteja ela onde estiver (e estou inclinado a pensar que não está mais em lugar algum), há um privilégio em jogo a que nós, os vivos, não temos direito: Amy agora tem o privilégio de não ser mais assombrada por imagens de uma possível velhice. Morreu no auge, embora esse "auge" tenha sido carregado de álcool e drogas.

O que quero dizer é simples. Que tipo de coragem é preciso ter na vida? Coragem para seguir em frente, apesar do definhamento natural do corpo e das inúmeras limitações (na verdade, doenças) que nos esperam? Ou coragem para sair de cena enquanto é tempo e, mais do que isso, enquanto se é lúcido para tal?

Esse dilema não me parece fácil de resolver.

Naturalmente, os críticos de Amy dirão que ela também estava doente, ainda que fosse bem jovem. Concordo e não há o que negar! Mas, compreendam: a questão está além de Amy ou de qualquer outro roqueiro dos anos 1970. É um problema filosófico, talvez um dos mais agudos referentes à condição humana. Traz à tona o papel de nossa consciência, pois somos a única espécie que sabe que vai morrer (sem saber, no entanto, sob quais circunstâncias ou se sofrendo ou não).

Isso parece pouco para justificar uma bala na cabeça? Pode até parecer, mas há um fundo de verdade em tudo isso. E um terror latente.

E é por isso, talvez, que alguns não suportam. Sexo, drogas e rock and roll me parecem ser apenas escapes para almas aflitas (ainda que sexo sirva para pessoas apaixonadas também, o que – no fundo – quer dizer quase a mesma coisa). Mas aflitas com o quê? Aterrorizadas por quais motivos?

Não sei dizer. Limito-me a enunciar a questão.

O que sei é que é mais difícil do que parece, e qualquer um pode se ver repentinamente dentro dessa problemática. Basta olhar o curso de maturação de uma fruta, particularmente das bananas. Nos primeiros dias, elas estão verdes, impróprias - portanto - para o consumo; depois de um tempo, ficam amarelas, cheirosas, macias e doces como o mel; mais algum tempo e começam a se deteriorar, até o ponto em que se enchem de insetos, enegrecem e logo começam a feder.

E a pergunta que não quer calar, apesar de óbvia: o que nos torna biologicamente diferentes das bananas?

Amy Winehouse não precisa mais esquentar a cabeça com isso.

Gustavo Miranda

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A alma boa e o tiro na cabeça

É verdade mesmo. O ser humano é a única espécie que, além de ter de lidar com um ambiente externo, tem de lidar também com um ambiente interno.

Aliás, ouso dizer que o segundo desses ambientes é o mais complexo. Pois, se - por um lado - ele é indispensável às nossas faculdades mais pessoais e à nossa identidade propriamente dita, por outro age como um inimigo interno, sempre pronto a complicar até as coisas mais simples da vida.

E não é assim mesmo que nos sentimos quando, diante de um dia lindo de sol, ficamos deprimidos e preferimos um quarto escuro?

O que acontece? Algum problema específico com o sol? Ou seria nosso ambiente interno que, por ser interno, passa a contaminar o mundo exterior?

Essas e outras questões foram profundamente estudadas pelos filósofos de todas as épocas. E tudo indica que, à medida que envelhecemos, mais importante se torna ter uma alma boa, já que do corpo não podemos esperar muito com o passar dos anos.

Isso posto, no entanto, convém destacar uma coisinha.

Que ninguém confunda "alma boa" com esse totalitarismo do bem que está na agenda social atualmente (essa coisa de ter princípios morais, éticos ou o que seja). Não! Para mim, "alma boa" é uma característica a ser arduamente desenvolvida e que, dentre os vários benefícios, pode até minimizar a vontade natural que qualquer ser consciente (crítico e sensível) tem de dar um tiro na cabeça de tempos em tempos.

Gustavo Miranda
      

terça-feira, 26 de julho de 2011

Amor Platônico

Eu a vi de relance. Por um breve momento. Ela carregada de sentimentos. Eu, de incertezas. De condicionais. De torturas e covardias, como se saber seu nome fosse pecado mortal, mesmo para um coração já perdido de amor (o meu, no caso).

Peguei-me a ouvir a seguinte voz dentro de mim: Não posso! Não posso! Não é certo! E, diante da vaga lembrança de que eu não tinha planejado nada daquilo, fui obrigado a admitir o óbvio, embora não quisesse: não havia volta para mim. A paixão me consumia.

Mas ela ficou lá, distante de mim. Muda, a não ser pela música de seus cabelos ao vento. E foi naquele dia, precisamente naquele instante fortuito, que eu soube como ninguém o que significava amor platônico. Não que eu tivesse algo a ver com Platão, já que, naquele tempo, nem suspeitava quem era o tal filósofo. Mas nunca tive dúvidas de que aquele era um amor ideal. Tão ideal e tão perfeito que nem chegou a ser consumado. Ficou na memória, assim como o sorriso que adornava aquele rosto angelical que eu supostamente jamais veria de novo.

Gustavo Miranda
      

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A ferida continua aberta

O papo-furado mais estranho que já ouvi na vida é aquele que prega que as pessoas superam as dores e as mágoas com o tempo.

Mentira! Isso pode até ser verdade num sentido metafórico / filosófico. Ou, talvez, no sentido de que, com o tempo, vamos criando barreiras e maneiras de fugir de certos sentimentos e de certas lembranças, num esconde-esconde mental interminável. Mas a verdade, sejamos honestos, é que não existe tempo capaz de cicatrizar certas feridas. E não existe esse negócio de superar as situações.

Isso não quer dizer, naturalmente, que eu desacredite da habilidade inata que nós todos temos de renascer das cinzas e de tentar consertar tudo. O que penso, na verdade, é que seguimos aprendendo a (sobre)viver com as feridas e com as avarias psíquicas, num processo diário de recriação que é, ao mesmo tempo, necessário e benéfico. Mas as mágoas não passam nem são, milagrosamente, transformadas em sentimentos bons. Quando muito, deixam de exercer influência constante sobre nós. Porém, também não há garantias de que seja assim em todas as circunstâncias e, portanto, o mais comum é que elas fiquem latentes, ainda que alguns neguem (ou tentem negar).

Esse é um motivo, aliás, que explica nossa instabilidade como sociedade. Vez ou outra alguém saca uma arma no meio do trânsito e mata alguém; frequentemente, agimos de modo inconsequente e ferimos pessoas que amamos; quase sempre, deixamos o animal que mora dentro de nós fazer suas vítimas sem nenhuma razão aparente.

E tudo por quê? Tudo por quê?

Porque ninguém supera as dores e as mágoas com o tempo. Os atos grotescos que cometemos são como válvulas de escape que nos dão uma sobrevida. As feridas, no entanto, são como vulcões. Podem estar sob controle durante anos a fio, embora estejam sempre prontas para fazer nossa mente entrar numa erupção sem precedentes.

(Em tempo: no final da década de 1980, minha professora de educação artística soltou o comentário "Que relaxo!!", ao constatar minha inabilidade para desenho em uma de minhas atividades. A ferida continua aberta...). 

Gustavo Miranda

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A vingança nunca é plena

Uma breve consideração.

O indício mais flagrante de que somos criaturas estranhas e complicadas (e que tendemos mais para lado da maldade do que da bondade) é esse gosto pecaminoso que cultivamos desde sempre pelas vinganças e pelas desforras. Refiro-me a vinganças de todos os tipos. Profissionais. Sociais. Familiares. Sobretudo, aliás, conjugais (quem já não se pegou pensando, alguma vez na vida, em se vingar de ex-namorados ou ex-namoradas?). Cultivamos esse gosto estranho, em geral totalmente inútil, pelo simples prazer de sentir a alma renovada ao ver pessoas supostamente ruins sofrendo e pagando os pecados. Aí, quando tudo acaba, enchemos o pulmão de ruindade e voltamos aos nossos afazeres desprezíveis, felizes com a desgraça alheia, embora - às vezes - com um pouco de pena também (eis o paradoxo!).

Essa tendência é tão dominante em nós que, até mesmo na literatura e nos filmes, ela se faz presente, e de modos variados. Quem não se lembra de "O Conde de Monte-Cristo", "Ben-Hur", "Spartacus", "Gladiador" e tantos outros?

Gostamos desses roteiros apenas porque geram bons filmes e boas histórias? Não, tenho certeza de que não é só por isso! Gostamos porque, além das características que beiram a genialidade, eles também (e diria principalmente) canalizam desejos reprimidos que adoraríamos pôr para fora. Vontades negadas. Vinganças abafadas, a maior parte delas, sem dúvida, em virtude de nossa covardia natural, o  que não acontece nas telinhas do cinema, já que os heróis cinematográficos são sempre tão corajosos e tão irritantemente bem-sucedidos em seus planos vingativos (que inveja!).

Repito: essa é a prova de que valemos pouco ou quase nada. Pois, se por um lado nos identificamos com o desejo de vingança, por outro nos reconhecemos incapazes e covardes diante da realidade. Daí a fuga para a literatura, para os filmes, para as novelas. Nesses cenários, pelo menos, a vingança é plena.

O que não se pode negar, ainda que alguns tentem esconder, é que a vingança está para o prazer assim como a sarna está para a coceira. Quanto mais nos empenhamos em vingar, mais somos escravizados por essa cólera espiritual. E aí vem a constatação, um tanto óbvia: a vingança não cura. Não conserta. E, principalmente, não apaga o passado. Ela só oferece alguns cacos de vidro para coçarmos nossas feridas já cobertas de pus.

A ironia de tudo isso é que... dá prazer. Dá muito prazer!

Gustavo Miranda  

terça-feira, 28 de junho de 2011

O "até quando?" me mata...

Gente cismada como eu costuma ter preocupações que, para dizer o mínimo (o mínimo mesmo), beiram o incompreensível. É o que ocorre comigo quando a vida está boa demais, quando os pássaros estão cantando belas melodias e o sonho parece estar, enfim, conquistado. Tenho medo disso! Dessa sensação de que tudo está no lugar. De que estou feliz e de que nada poderia estar melhor. Sinto isso menos em virtude de algum suposto medo de ser feliz do que pela dimensão do desconhecido propriamente dita. Mas, ainda assim, me assombra a sensação, principalmente porque, entre tantas perguntas cabíveis, uma fica sempre martelando a minha mente: até quando vai esse sossego? Até quando vai essa alegria?

Bem sei que, para a maioria dos mortais, essa é uma prova cabal de que não bato bem dos miolos (e disso, diga-se, nunca tive dúvidas). Mas o caso é que não consigo evitar. Esforço-me ao máximo para não deixar transparecer e para não preocupar ninguém com essas coisas (são coisas minhas, afinal), porém os pensamentos estão sempre lá, sólidos, inquisitivos e realistas. Até quando? Até quando? Até quando?

Já percebi, no entanto, que - quando as coisas estão ruins - tenho a leve tendência de me portar melhor. Afinal, quando a vida vai de mal a pior, o que se espera é que, em algum momento, ela melhore e os risos voltem. Nunca vi um mendigo, por exemplo, preocupar-se com a ideia de que sua vida possa piorar. Piorar, nesses casos, é uma impossibilidade teórica e prática. Ou a vida melhora ou continua do jeito que está! Por esse motivo, nunca deixo de ser otimista quando a vida fica difícil.
 
Meu problema (se bem que não chega a ser realmente um problema) é o período "pós-dificuldade". O momento em que tudo fica bom, em que o arco-íris aparece e os pássaros voltam a cantar. Aí as perguntas não me deixam em paz e tiram o meu sono. E, entre as principais, está essa maldita interrogação (até quando?) que me leva à loucura.

Então não durmo. Esperneio. E questiono os deuses sobre essa vulnerabilidade. Mas nunca obtive uma resposta decente, a não ser a mais óbvia: é preciso ser praticamente cego, surdo e mudo, intelectualmente falando, para ser totalmente feliz neste mundo (e isso me faz lembrar que tenho vários amigos que se enquadram nesse perfil. Tranquilos. Indiferentes. E, naturalmente, felizes - tão diferentes de mim).

Não é o meu caso e receio que nunca será. Eis alguns motivos. Em primeiro lugar, porque não se escolhe enlouquecer por determinadas coisas. Em segundo, porque, se existe realmente uma tal felicidade plena, pretendo alcançá-la do jeito que sou.

Crítico. Depressivo. E complicado...       

Gustavo Miranda  

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Conversa de botequim: traição

Não vou perder tempo com definições. Perdoem-me. Direto ao assunto.

Já se falou muito, e às vezes sem chegar a consenso algum, sobre a traição masculina e a traição feminina, mais especificamente sobre as características de uma e de outra (eu mesmo já tratei do assunto algumas vezes). O que poucos tiveram coragem de sublinhar, no entanto, é que a traição masculina é a única que pode andar lado a lado com o amor. É, isso mesmo. Traição e amor. Lado a lado, e pela mesma pessoa, aliás. Pois, se estou certo no que penso, o homem é o único capaz de trair a parceira e continuar amando-a sinceramente, como se nada tivesse ocorrido.

Bem, foi o que Arnaldo Jabor disse outro dia no rádio, causando espanto, claro, embora estivesse coberto de razão. Na explicação, disse que a traição masculina é movida à testosterona. É hormonal. Passageira. Assim como "sobe" rapidamente (e o termo aqui não foi escolhido ao acaso), desce e desaparece em poucos minutos. É cheia de energia, é verdade, e também beira a animalidade, mas dura pouco e, um dia depois, já não há praticamente nenhum resquício do que foi ou do que representou.

Daí a conclusão de Jabor: as mulheres não devem temer a traição masculina. Motivo simples: o homem é capaz de "comer" (perdoem-me a expressão) sem se envolver. Ele é realmente capaz de ter prazer sem dar o coração.

Não sou um grande estudioso do assunto, mas não é necessário analisar muito para perceber que, no caso das mulheres, a coisa é ligeiramente diferente. Isso porque a traição feminina, quando ocorre, começa de dentro para fora, justamente a partir do coração (excluídas as situações de vingança afetiva, o que - para mim pelo menos - são outros quinhentos). O detalhe é que não se chega ao coração delas assim, do nada, rapidamente. É um trabalho exaustivo, de entregas e vínculos parciais que, por fim, criam o ambiente propício para que tudo aconteça. Mas isso só depois de muita conversa, muitas saídas, muitos bilhetinhos e telefonemas. E, principalmente, de muita identificação pessoal. Quando a mulher finalmente se entrega, já não há mais quase nada a se conquistar. O felizardo tem a faca e o queijo nas mãos para manter a relação (a não ser que seja muito burro de não mandar flores no dia seguinte, mas aí é outra história...).

Estou escrevendo isso porque, no fundo, fico pensando que há uma conclusão alternativa e paralela à de Jabor, na versão oposta: os homens é que devem temer a traição feminina. O motivo também é óbvio. A mulher não trai só fisicamente. Ela o faz emocionalmente, afetivamente. E não há nada de passageiro ou acidental nisso.

O problema é que, quando essa combinação de fatores ocorre, meus caros, não há mais nada a fazer. A não ser aceitar, veladamente, a derrota...

(Nota do autor: peço licença ao leitor para discordar de quase tudo o que eu mesmo escrevi. Achei que o texto ficou machista. Superficial. Uma perfeita conversa de botequim. Mas, enfim, serve para fazer pensar).      

Gustavo Miranda

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Reflexões filosóficas no salão de beleza

Conversa no cabeleireiro:

Uma das clientes dirige a palavra à cabeleireira: "Seu filho faz 1 aninho no mês que vem. Vocês farão uma festinha?". Ao que a cabeleireira responde: "Não, não! Somos testemunhas de Jeová! Não fazemos isso!".

Silêncio abrupto.

Não que eu tenha qualquer simpatia por festinhas de aniversário, sobretudo as de criança (que, perdoem-me a franqueza, são uma ótima maneira de pagar os pecados), mas aquilo soou tão bruto aos meus ouvidos que não pude evitar a reflexão. Ora, está aí um dos grandes equívocos dos pais religiosos. Eles, em geral, se esquecem de uma coisa básica: ninguém nasce religioso. As pessoas tornam-se religiosas mediante adesão, seja lá por qual razão (atualmente, as boas razões andam em falta, confesso), a este ou àquele credo. Mas aí vem o detalhe: elas devem fazer isso exercendo seu próprio direito de escolha. A adesão a uma religião pode vir acompanhada do cenário que for. Mas não da coerção, como - aliás - tem sido na maioria das famílias.

Sei que, tentando defender-se do indefensável, os pais logo buscam explicar tais atitudes com chavões do tipo estamos ensinando o caminho a nossos filhos. Mas essa é outra bobagem. O que eles fazem (embora nem sempre reconheçam que fazem) é modelar os filhos à imagem e semelhança deles próprios (outra ideia com fundo religioso): os mesmos gostos, ideias, modos de se comportar, o mesmo credo. Enfim.

Ainda que eu reconheça que esse processo não é totalmente negativo, a depender das pessoas e das intenções envolvidas, claro, não nego que, em muitos aspectos, ele é pernicioso e cruel. Não existem crianças religiosas. Existem pais religiosos.

Por isso aquela conversa informal no salão de beleza agrediu meus ouvidos. No fundo, reconheço nela um pouco do que aconteceu comigo.   

Gustavo Miranda  

terça-feira, 14 de junho de 2011

O sol que aparece depois da chuva

Coloquemos em termos simples e diretos.

As separações são difíceis e dolorosas porque o outro, que se vai, nunca vai embora de mãos abanando. Ele leva consigo parte do que fomos um dia. Arranca de nós uma fração do que pensamos, do que sonhamos, do que planejamos. Mexe mais com nosso passado, embora também afete nosso presente e futuro. Altera nossa essência, deixa marcas, ainda que a intenção não seja machucar, apenas despedir-se.

Sempre me encheu de tristeza presenciar esses momentos. E isso não apenas porque, atualmente, eles se tornaram mais frequentes e banalizados, mas - sobretudo - porque em minha mente figurativa e analítica não vejo outra imagem capaz de sintetizar melhor o sofrimento humano que a imagem da separação e da despedida. Separar dói. Traumatiza. Divide. Chego mesmo a pensar que o paraíso seria um ambiente em que nada (nem ninguém) precisaria ser separado. Um lugar em que nunca se diria “adeus”, apesar de, teoricamente, isso ser apenas uma fantasia adocicada.

Assim como muitos, deparei-me cedo com o tema da separação. Lembro-me que, ainda no pré, senti as lágrimas escorrerem de meus olhos quando, no meio do ano letivo, minha primeira professora, tia Sandra, anunciou que estava partindo para outra cidade e teria de deixar as aulas. Depois, quando já estava mais crescidinho, naquela época em que descobrimos o complexo que a vida é, lembro-me também de ficar assustado e depressivo ao saber que tive um irmão mais velho que nem cheguei a conhecer.

Despedidas. Separações. Umas mais simbólicas. Outras menos. Todas simbolizando o fechamento de um ciclo. O encerramento de um caminho.

O que me chamava a atenção já naquelas primeiras sensações de separação é que, como somos humanos e não queremos sofrer para sempre, procuramos nos convencer de que "há males que vêm para bem". Então tentamos ver o lado positivo das coisas. Fantasiamos teorias. Criamos chavões, afinal, quando uma porta se fecha, outras duas se abrem. E assim seguimos a vida, tentando crer em histórias que beiram a metafísica.

O caso é que sempre tive dúvidas. E ainda não sei se a verdade é bem assim.

O que me parece ser fato é que, diante das separações, temos todos uma capacidade incrivelmente apurada de encontrar caminhos alternativos e, eventualmente, até de chegar a resultados surpreendentes. Mas isso não tira o peso e a dor das despedidas. Pois o tempo passa e, vez ou outra, nos vemos perante sentimentos de dor que ficaram para trás, em separações forçadas ou inevitáveis (é o meu caso, aliás, que ainda tenho sonhos com minha tia Sandra e não deixo de fantasiar um só dia sobre como seria ter um irmão mais velho).

As separações são difíceis. E são difíceis porque nos tiram do conforto e da segurança que sentíamos (ou sentiríamos) na presença do outro. Para ser sincero, não sei se há algo que doa mais que a despedida forçosa daquilo que nos completa. Por isso, o sentimento de ausência esgota no momento todas as possibilidades de felicidade. Por isso, também, choramos nas despedidas, embora o sorriso sempre volte com outros e novos encontros.

Como o sol que aparece depois da chuva...

Gustavo Miranda  

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Vai ficar para depois

Então, subitamente, decidi que era hora de descansar. O quarto sem energia, luzes apagadas, silêncio cristalino, me trouxe uma vez mais o sentimento de harmonia e quietude de alma que somente os corajosos conseguem experimentar. Do lado de fora do quarto, querendo rasgar o tecido desse sossego fortuito, preocupações variadas com a vida e com pessoas que não valem uma gota de suor (pelo menos não em certos instantes). Vai ficar para depois, pensei. Bem depois! Naquele momento, a única coisa que importava era a profunda sensação de encontro com a paz e com o nada, sentimento tranquilizador e, ao mesmo tempo, anestésico. E que se dane a seriedade da vida! Há momentos em que o melhor a fazer é desligar-se da vida e de todos. Temporariamente. Temporariamente.

Gustavo Miranda
     

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A solidão das redes sociais

Mesmo sendo eu um amante da "solidão", verdade seja dita. A maioria dos seres humanos (eu inclusive) só consegue mesmo suportar um tipo de solidão. A solidão com "s" minúsculo. Essa solidão é aquela solidão acompanhada, em que não se está totalmente sozinho, embora fisicamente não se esteja na presença de ninguém. É um tipo de retiro físico, ainda que sempre na companhia mental de outras pessoas, por meio de livros, músicas, lembranças, pensamentos, etc. Sou amante dessa solidão (nem sempre, claro) e acredito que toda pessoa precisa de um tempo assim. A questão é que existe um outro tipo. Solidão com "S" maiúsculo. E essa, meus caros, bem, essa é para poucos. Só consigo me lembrar de alguns monges que conseguem isso. Afirmam ser capazes de silenciar completamente o corpo, os sentimentos e a mente. Chamam isso de "meditação". E se dizem revigorados após esses momentos. Digo Solidão com "S" maiúsculo, porque - essencialmente - esse processo leva ao esvaziamento total do ser. Ou seja, trata-se de uma solidão completa, em que até mesmo o "eu" está ausente.

Não sei se sou capaz disso. Já tentei, aliás. Mas não sou monge. E minhas aspirações estão bem distantes disso. O caso é que, parece-me, as redes sociais são mais um desdobramento dessa necessidade de solidão acompanhada. As pessoas até querem companhia, mas preferem evitar o contato. Tempos modernos, afinal.

Gustavo Miranda

domingo, 22 de maio de 2011

Auto-Engano

E, de fato, é verdade. Depois que me dei conta do modo como penso, das negociatas e das adaptações que faço mentalmente, com o único intuito de tentar me convencer de que estou certo na maioria dos casos, passei a desconfiar mais do que os outros dizem e pensam. Eduardo Gianetti escreveu um livro a respeito, chamado "auto-engano", não faz muito tempo. Tratava disso. Segundo ele, uma boa parte das ideias que forjamos no cérebro pode ser considerada auto-engano. Ou seja, são casos em que sabemos que a realidade é outra, mas - mesmo assim - nos enganamos (e, não raro, tentamos convencer também as pessoas ao nosso redor com essas fantasias).

Quem já não fez isso?

O perigo desse tipo de comportamento é que, após algumas repetições, o auto-engano pode passar a ser verdade coletiva. E aí o negócio fica sério, pois é como se a mentira tivesse sido contada tantas vezes que passou a ser verdade. Outro engano, aliás.

Não sei se estou sendo claro, mas o que quero destacar é que habitamos um mundo construído por nós mesmos, em que é difícil distinguir o engano da realidade. Talvez seja por isso que minha querida Clarice Lispector, em suas anotações instintivas, escreveu algo bastante simples, embora profundo: "o erro dos inteligentes é sempre mais grave: eles têm os argumentos que provam".

Creio que esta reflexão serve, pelo menos, para nos tornar mais cautelosos em relação às nossas certezas. Ou não! Cada um com seu auto-engano. Sempre.

Incluo-me na lista, aliás.

Gustavo Miranda  

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Saudades de mim!

A vida passa tão depressa que, em certo sentido, chego a sentir saudade da pessoa que fui um dia. Também sinto falta de outras pessoas, embora não seja saudade física, dessas que a gente mata no encontro. Saudade do que elas foram no passado. Do que representaram para mim, do que pensaram, do que fizeram. Enfim. Saudade que não dá para matar no presente, a não ser mentalmente, de modo saudosista e parcial. Deve ser por isso que alguns filósofos separam o mundo em duas partes: o mundo que temos em nossas mentes, idealmente; e o mundo real que experimentamos diariamente. Não tenho dúvidas de que o primeiro é sempre mais interessante e confortável, embora o segundo seja como um despertador a lembrar que nossas melhores lembranças viraram fantasias e que, portanto, não correspondem mais à realidade (o que, às vezes, é bom também). O caso é que não dá para viver só no primeiro ou só no segundo desses mundos. Na transição de um para o outro, aliás, constata-se o óbvio: as coisas já não são mais como antigamente. Daí a saudade! Saudade do que fomos um dia!

 

Saudades de mim!   

 

Gustavo Miranda  

domingo, 8 de maio de 2011

Pequena homenagem

Àquela que me amou primeiro e que - com a simplicidade de seus gestos - não me deu outra escolha, senão retribuir - de modo singelo e sincero - a ternura recebida e o elo estabelecido desde o primeiro colo.

Feliz Dia das Mães!!

Gustavo Miranda

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Mundo assombrado pelos demônios

A vida em sociedade é tão difícil que, às vezes, chego a pensar que algo deu errado no projeto inicial. Sim, porque todos nós sabemos que, apesar do caráter mítico e fantasioso de algumas narrativas, todas as histórias que nos chegaram por meio das religiões, das clássicas epopéias e, também, das ciências antigas dão conta de que o homem é um ser social por excelência, no sentido de depender dos demais seres humanos e, naturalmente, do meio em que vive. O que ocorre é que, embora essa dependência seja óbvia e, em certa medida, louvável, não se pode negar que a independência também sempre figurou como ideal a ser alcançado entre os seres humanos. Com isso, muitas vontades. Muitos desejos. E, modernamente, muitas individualidades ferveram ao longo dos milênios. No limite, gerou-se o paradoxo de que falei no início deste parágrafo: somos seres sociais, sim! Dependentes, sim! Mas também carentes. Carentes de independência, de satisfações pessoais, de sucessos particulares, de massagens no ego.

 

Aos teóricos do homem, tudo isso sempre soou muito natural e parte integrante de um processo abrangente. A questão, no entanto, é que nunca foi simples ser a única espécie a carregar tantas energias opostas internamente. Esses são, aliás, os únicos e verdadeiros demônios do mundo. Demônios que carregamos dentro de nós, no coração. E que tentamos ocultar a qualquer custo, embora eles sejam fortes o suficiente para continuar a tornar nossa vida em sociedade difícil e, às vezes, impraticável. 

 

Gustavo Miranda  

domingo, 24 de abril de 2011

As lacunas da traição

Não me parece inapropriado pensar que, em matéria de traição, e me refiro às traições conjugais em sentido amplo, o foco - tanto para mulheres como para homens - seja menos a aventura de viver perigosamente do que a necessidade, quase insuportável, de preencher as lacunas que foram deixadas (e, às vezes, mal-compreendidas) pelo outro durante os anos. Assim, parece-me claro que há tipos de traição que são menos uma questão de seios irresistíveis e de corpos perfeitos do que uma questão de encontrar um sentido de vida e de buscar a felicidade. Trai-se, paradoxalmente, por falta de opção. Por necessidade. Trai-se por falta de caminho. Ou melhor, com o intuito de encontrar o tal caminho, embora nem sempre essas motivações estejam explícitas (em geral, não estão).

 

Não quero afirmar, com isso, que a responsabilidade da traição é apenas de quem foi traído (e, na verdade, tenho a impressão de que o contrário também não é verdadeiro). Só estou sugerindo que, quando o assunto é traição, o melhor mesmo é olhar para as lacunas. As lacunas deixadas pelos anos de convivência. São elas, para ser sincero, a depender da importância que têm para as duas pessoas envolvidas, que abrirão ou não o caminho para uma terceira pessoa. Lacunas, afinal...  

 

Gustavo Miranda

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Controle

O que a Igreja fez durante boa parte da Idade Média passou a ser tão imprescindível para as organizações atuais quanto o foi para a santa inquisição naquela época. Cultivar a fé e os bons princípios? Nem tanto, nem tanto! O que ocorre nas organizações atuais, sejam elas empresariais ou não, é a busca frenética por controle. Controle dos corpos, controle dos pensamentos. Controle das ações e de tudo o que possa valer a pena controlar. Quem nunca parou para refletir sobre o assunto, pode começar dando uma espiadela pelas ruas e pelos corredores das empresas. Câmeras. Catracas eletrônicas. Relatórios de produtividade. Olhos e ouvidos por todos os lados. Talvez seja essa a identificação natural que as pessoas demonstram ter com os reality-shows. É que a vida contemporânea tornou-se um Big Brother por excelência, apesar de ganharmos bem menos (bem menos) para entreter tantas pessoas (nossos chefes, pais, professores, etc.).

Gustavo Miranda  

sábado, 9 de abril de 2011

O massacre de nossas convicções!

O grande mal dessa modernidade tardia - e, na verdade, não consigo decidir se deveria ver isso com bons olhos ou não - é que, além de as certezas nos terem sido subtraídas de forma traumática e violenta, ficamos também com a impressão assustadora de que os remédios que anunciavam a cura nos deixaram ainda mais doentes e acovardados diante das dúvidas. O massacre sanguinário e premeditado dessa semana, embora recorrente em outros lugares do mundo, não deixa dúvidas. Somos uma sociedade doente. Carente. E, por mais que os especialistas se esforcem agora para tentar explicar o que deu errado, sabemos que não há explicação. A não ser aquela - amedrontadora, na verdade - que constata o óbvio: estamos entregues ao caos; e não há mais regras capazes de nos devolver a tranquilidade de que gozávamos antes.

 

O que quero dizer é que a morte daquelas crianças, tão cheias de vida e certamente portadoras da esperança de um mundo melhor, representa um mal menor comparativamente à desilusão que, pouco a pouco, tem se espalhado por todos os cantos do planeta. Com isso, devo enfatizar que o grande mal do período atual é que perdemos a confiança nas rotinas capazes de controlar os comportamentos. Perdemos a fé na segurança, de um modo geral. E estamos agora a contemplar a imagem de um monstro no espelho. Nós mesmos, na verdade. Inconstantes. Problemáticos. E, sem dúvida alguma, amedrontados e vulneráveis.

 

Não se enganem! Não foi a primeira nem a última vez que inocentes morreram de modo bárbaro e planejado. Isso ocorre todos os dias. A dor desta vez é que crianças e escolas sempre foram termos que simbolizaram paz, esperança e mundo melhor. E, infelizmente, agora nem essa certeza podemos levar para o túmulo.

 

Nossa alma está em luto... pela morte de nossas convicções.     

 

Gustavo Miranda

domingo, 3 de abril de 2011

A dor de saber pouco ou quase nada

Não tenho certeza se as dificuldades e o sofrimento são, realmente, condições essenciais para o aprendizado e o desenvolvimento humanos. O que sei é que muitas pessoas argumentam que essas situações, de cotidianidade, de dor e de obstáculos, trazem em seu bojo aspectos positivos que, segundo elas, são capazes de nos fazer refletir sobre coisas que, de outro modo, não seriam jamais objetos de nossa análise. Isso, apesar de parecer compreensível para muitos, tem pouco significado para mim. Em primeiro lugar, porque sempre desconfio desse sentido que nós, os humanos, tentamos criar a posteriori (sempre a posteriori) sobre as dificuldades que nos assolam. A meu ver, isso serve mais como tentativa de se conformar com as coisas, de ajustar o alvo aos dardos lançados pela vida, do que como explicação factível e razoável capaz de aquietar espíritos mais críticos e inconformados (como o meu, por exemplo). Em segundo lugar, porque tenho dificuldades em aceitar a ideia de um sistema cognitivo que só atinge seu máximo desempenho quando atrelado às dificuldades e às dores diárias, embora eu compreenda perfeitamente que essa lei, de um ponto de vista seletivo, é genial e - ao mesmo tempo - enigmática. A dificuldade como mãe da criatividade. Por tabela, a constatação de que a felicidade não produz ideias interessantes! (Será?).

Isso tudo, naturalmente, são meras reflexões de uma mente atordoada e cansada de ver tantos sofrimentos mundo afora. Só queria mesmo entender por que fomos abandonados à própria sorte e por que estamos fadados a viver sempre com as mesmas dúvidas.

Faz sentido para alguém?

Gustavo Miranda
  

quarta-feira, 23 de março de 2011

Cena tipicamente urbana

De um lado da rua, o hospital - lugar de pranto, dor e desespero (com raras exceções); do outro, a churrascaria - lugar de riso, festa e comemoração. E aí a constatação: os filósofos estão certos! A divisória entre pranto e prazer é, de fato, tênue. Nessa imagem, mede apenas a largura de uma rua - alguns metros, na verdade. Foi o que vi hoje. Polaridade.

Gustavo Miranda

domingo, 20 de março de 2011

A foto

Encontrei uma foto. Aleatória. Na rede. E rapidamente me vi diante de uma realidade difícil de aceitar, embora fácil de compreender, mas isso na teoria, não na prática. Eu explico. O rosto era conhecido. Pessoa bonita. Charmosa. Já a conhecia há muito tempo, mesmo que não a visse fazia anos, talvez décadas. Mas aí um problema. O que me intrigou foram as marcas. Perto dos olhos. Por toda a região da testa. No pescoço. E nas mãos, enrugadas e mais frágeis que o habitual. Sinais do tempo. Marcas dos anos. Com os olhos presos àquela foto, pensei o óbvio: que o tempo é, de fato, nosso pior inimigo nessa trilha que vai do nascimento à morte. Mas mudei de ideia. E bem rápido. Pois, na verdade, não é o tempo o nosso pior inimigo. Nem as marcas que ele deixa em nossos corpos, que geralmente ferem nosso ego e nos fazem investir tanto em manter as aparências. É a consciência. A consciência de que o tempo passa. E a consciência de que ele decreta, silenciosamente, nossa morte simbólica todos os dias. É isso o que nos intriga. E é isso o que não conseguimos aceitar.

Típica experiência que todos nós já tivemos na vida. Experiência amarga do relógio. Dos segundos, dos minutos, das horas, dos dias e das semanas. Tudo escorrendo, de forma alegórica, através da areia da ampulheta que marca quanto já vivemos e quanto ainda podemos esperar viver.

Não espero entender por que as coisas são assim. Mas gostaria de saber por que, dentre todos os animais, somos os únicos a ter essa sórdida consciência.

A foto não me sai da cabeça... e o tempo continua passando.

Gustavo Miranda

terça-feira, 8 de março de 2011

O doce e o amargo

O desencanto foi inevitável. Automático e irreversível. Pois, tão logo a realidade se desenhou nítida e inconfundível, as fantasias acabaram desconstruídas e reduzidas ao pó. No lugar, crueza e pés no chão. Esvaíram-se as inverdades e os analgésicos da alma. Brotou pavor. Medo. E covardia diante do real, embora eu já soubesse - desde o início - que esse negócio de verdade é mesmo para poucos. Bem poucos.

Mas o que é a verdade e quem tem coragem de enfrentá-la? Não sei e ninguém nunca saberá. O que sei é que sem fantasias e sem misticismos o mundo se torna pavoroso e árido (Já o visitei. E recomendo! Mas com cautela. Com muita cautela!).

As fantasias adoçam a alma e tornam o peso da responsabilidade suportável. Doce veneno. A verdade, porém, liberta. Liberta, mas desencanta.

O gosto é amargo. Bem amargo! Pode dar ânsia.

 

Gustavo Miranda  

domingo, 6 de março de 2011

Receios

O receio que sinto pela morte não é maior nem menor que o receio que sinto pela vida. A morte me assombra pelas dimensões do desconhecido, da dor e da dúvida. Mas a vida também, embora - na maioria das vezes - eu seja suficientemente ingênuo (ou medroso) para esquecer desses detalhes e de seus desdobramentos. O que realmente me motiva a viver, se bem que isso não chega a ser um alento, é que não tenho escolha. Na verdade, nenhum de nós tem. A opção de ser covarde para desistir desse misterioso caminho que vai da vida à morte está, em teoria, excluída. Portanto, conformo-me. Resigno-me. E sigo adiante, mesmo sabendo que a morte, assim como a vida, segue leis próprias; em geral, enigmáticas e insondáveis, assim como a imensidão do espaço e como a vastidão do tempo.

Apenas receios...

Gustavo Miranda

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Farinha do mesmo saco!

Nossa paixão por sistemas democráticos, no fundo, esconde um problema mais agudo e bem mais antigo: a vida em si é bem pouco democrática. Diria até que ela é muito mais determinista que democrática, aliás. Daí o óbvio: não aceitamos isso. Então criamos sistemas, e boas fantasias, que não têm outra função senão dar-nos a impressão de controle e de escolha sobre as coisas que se passam ao redor, o que - naturalmente - é questionável, embora nosso ego não nos permita, em geral, pensar assim.

Mas o problema não termina aí. Há aqueles ainda que, inebriados por esse falso poder diante da vida, criam normas e regras e institucionalizam nossos medos e desejos, sob a promessa de que seremos felizes se aderirmos a um credo, a uma forma de pensar.

É o caso das Religiões, do Estado, da Ciência e de tantas instituições e explicações, cada uma com suas regras próprias e suas promessas indiretas, que tentam nos cooptar.

Busca por controle e por poder. Tudo farinha do mesmo saco!

Gustavo Miranda

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ferida Narcísica

Uma ferida narcísica apoderou-se de meu coração. Para nunca mais ir embora. Nunca mais dar trégua, a não ser nos raros momentos de lucidez. De embriaguez intelectual. De resignação frente ao espinho na carne que me consome por inteiro, fazendo-me ainda pensar - vez ou outra - que algumas cruzes são de isopor, outras de plástico ou de madeira, embora a minha seja mesmo de chumbo (e eu não tenha para quem reclamar).

É essa ferida narcísica, na verdade, que me traz tantos problemas práticos. Ninguém consegue ver ou perceber. E, mesmo que fosse possível, especializei-me em disfarces. Em dissimulações. Postando-me como exemplo aos demais, ainda que tudo não passe de fantasia e de exageros dos que se afeiçoam à minha pessoa.

Não, não é possível ver. Nem perceber. Mas lá dentro. Ah, bem lá dentro, moram comigo sentimentos de rejeição que eu jamais pude compreender ou explicar. Não sei quando começaram e nem sei se um dia irão terminar. O que sei é que eles ditam meus passos. E espreitam-me no lado obscuro do ego, como caçadores natos que possuem a técnica e a frieza necessárias para deixar a vítima se debater até a morte, totalmente sozinha.

Tudo isso está em minha mente. E é com ela que vejo o mundo. A imagem no espelho, no entanto, não me agrada e continua borrada.

Ninguém tem culpa.

Entender, porém, já é outra história. A ferida não deixa, embora eu tente...

Gustavo Miranda

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

As aparências enganam

E, de fato, o que merece destaque atualmente, como desdobramento da privatização do ensino superior, é a duvidosa impressão de que a universidade está cumprindo seu papel de formar cidadãos para as sociedades de hoje e de amanhã. Meu ceticismo, no entanto, me traz receios... e, embora as questões já tenham sido exaustivamente debatidas, prefiro endossar as palavras de Schopenhauer (que me incitam a pensar) a acreditar em contos de fadas que apenas engordam os números, mas dizem pouco da educação e dos desafios do século XXI.

Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam (Arthur Schopenhauer, em A arte de escrever).

Gustavo Miranda

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A ordem é exceção

A busca por coisas que façam sentido na vida é, no fundo, uma busca por regras que sejam capazes de nos livrar da aleatoriedade inerente à condição humana. Por isso temos tanto gosto pela ordem; pelos códigos sociais; pelas religiões; e pelos livros de auto-ajuda. Procuramos regras. Buscamos organizar o caos. Pois não suportamos viver num mundo em que não há razões (e boas razões) para os fatos que se sucedem à nossa volta.

O sentido pode ser teórico, e na maioria das vezes é. Não importa muito se está diretamente relacionado à verdade dos fatos ou não. Por uma razão simples: a busca por sentido é, também ela, busca por explicações. E nada conforta mais do que a vaga sensação de que entendemos o que se passa nesse grande mistério que é a vida.

O caso é que, talvez, seja a hora de reconhecer o óbvio, pelo menos na dimensão cotidiana, das relações mais diretas que temos com os fatos da vida (pois, cientificamente, já se sabe disso há muito tempo): a ordem é uma exceção. Vivemos numa realidade em que o acaso e o caos prevalecem sempre.

Sim, eu sei. É um balde de água fria em nossas pretensões.

Gustavo Miranda

domingo, 30 de janeiro de 2011

Asas do Suicídio

E bate um aperto. Quase uma solidão acompanhada. Um nó. Um caos. Medo do futuro? Do passado? Do quê? Não sei! O que sei é que sinto o tempo passando e vejo meus heróis ficando velhos. Sim, heróis. Velhos. Aqueles que me cativaram tanto, que fizeram tantos milagres e me encheram os olhos de tanta emoção. Velhos! Lentos! Doentes! Esquecidos! Daí vem a constatação amarga de que não são eles, heróis, arquétipos universais, que estão envelhecendo. Sou eu! Eu com minha mais profunda insignificância e efemeridade. Eu com meus erros. Com minhas tolices. Minhas desculpas. E meus desesperos. Sei bem que é preciso ter coragem para enfrentar as interrogações do ser. Porque o aperto vem. A solidão não tarda. O nó cada vez mais enforca, sem que tenhamos nossos heróis por perto para nos salvar. Mas a verdade é que é tão difícil, tão difícil, que as asas do suicídio (asas de falsa liberdade) mostram-se sedutoras demais nesses momentos de pura desilusão.

Gustavo Miranda

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Esperar

Esperar é uma tarefa penosa. E sentir o tempo parado amarra-nos a alma. Finca nossos pés ao chão. Lança-nos no mar da ansiedade. Do pânico. Das reservas e da falta de controle sobre as emoções. É verdade que as religiões muito falam da espera. E também desse descontrole emocional, que deve ser evitado a todo custo. Mas é a vida a melhor professora desses temas que afligem o coração humano e que machucam o ego.

E eis a nossa situação:

Vencer o espaço não foi suficiente. Queremos mesmo é vencer o tempo, muito embora tal empreitada não esteja ao alcance das mãos (de nossas mãos, pelo menos). A verdade é que o tempo parece ser um oponente imbatível. Não obedece a regras humanas. Não se curva diante de nossos caprichos. Pior que tudo: parece estar sempre com o velho sorriso maroto a contemplar as contingências que espetam nosso espírito.

Enfim. Nosso único consolo é saber que não existe nada mais poético que a efemeridade que nos acompanha silenciosamente todos os dias. Isso basta para alguns. Mas não deixa de dar raiva, além de corroer as entranhas.

Gustavo Miranda

sábado, 8 de janeiro de 2011

A morte (do)eu

Meus professores do colégio costumavam dizer que a primeira característica a se observar numa boa redação é a eliminação do "eu". Ou seja, proibiam-nos de escrever em primeira pessoa e, principalmente, de usar o tão desgastado "eu acho". A professora explicava: você não tem de achar nada! Procure ser objetivo e imparcial em sua dissertação! Confesso que era difícil. Porque, no fundo, o pedido era semelhante a este: pense, reflita! Mas nunca diga que é "você" que está pensando e refletindo!

Bem, vamos por partes:

Em primeiro lugar, devo dizer que acho isso uma bobagem, pois quem pensa e reflete é sempre o "eu". Portanto, para mim está claro que, de um ponto de vista teórico, não há "outro" no processo de composição.

Claro que é possível e aceitável usar o "nós" em textos mais refinados, por referência aos estímulos que temos a partir do "outro" ou nos casos em que há várias pessoas envolvidas na trama, mas, na maioria dos casos, o autor do texto é o "eu". É ele que sente. É ele que sofre. É ele que ri. Que ama. Que fica triste. Que se emociona. Enfim. Por que lhe negar a palavra? Por que calar ou omitir suas inclinações? O "nós" é singular. Usa-se por humildade. Ou para aparentar humildade. Mas é o "eu" quem dá forma às ideias. Ele é a mente organizadora.

Sei que há controvérsias e alguns devem estar questionando minhas intenções ao tratar de um assunto tão aparentemente sem importância. Contudo, devo confessar que, na verdade, meu objetivo é refletir sobre o que nós, sobretudo os Ocidentais, temos feito nos últimos séculos (e não apenas nas redações escolares). A aniquilação do "eu". A exclusão das subjetividades. A dissimulação em forma de palavras. Até parece que ninguém mais pode sentir, ninguém mais pode chorar, ninguém mais é dotado de si mesmo. Corpos desalmados. Equilibrados. Academicamente corretos. Mas sem emoção. Nenhuma particularidade. Essa tem sido a marca das sociedades nos últimos 200 ou 300 anos.

O que quero dizer é que a morte do eu, nas boas redações ou mesmo nas tendências atuais que buscam manter os sentimentos e as particularidades distantes do mundo do trabalho e das coisas sérias, é uma farsa, assim como - a meu ver - estão equivocadas também as teorias que dão prioridade ao "nós", ao "outro", e se esquecem do "eu" (não quero entrar em terreno filosófico aqui, apesar de me sentir tentado a isso).

Isso não significa individualismo e nem rendição aos fetiches do ego. Ao contrário. Significa dar voz ao "eu" oprimido. Significa recolocar a alma no palco das experiências, com todas as suas inconstâncias, efemeridades, particularidades, acertos e erros. O politicamente correto cansa! E cansam também as covardias e as relações estereotipadas! É preciso resgatar o "eu", sem medos, sem remorsos, sem traumas (ou melhor: com medos, com remorsos e com traumas, tanto faz).

Essa é, para mim, uma necessidade urgente. Não vai mudar os manuais de redação nem as dissertações de vestibular. Mas quem sabe mude o mundo!?

Um abraço,
Gustavo Miranda